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janeiro 06, 2013

.Os nomes próprios têm plural? (reformulado)

Fonte da imagem: AQUI.
 
O assunto da mensagem de hoje nasceu do comentário do meu leitor crítico (como todos os leitores deveriam ser…) Montexto. Num comentário à mensagem “E o plural de rés do chão é…”, depois de me ter lançado o repto, diz o seguinte: “«Digo aqui que para a empresa fariam minga uns mil Tomazes de Figueiredo [...]. Uns mil Tomazes de Figueiredo, e upa.» Obras Completas de Tomaz de Figueiredo, Dicionário Falado, Verbo, pp. 18 e 19.
Os modernaços tb não atinam a pluralizar nomes de gente, e verá que quase sempre grafam os Figueiredo, os Sousa, e muito mais se terminados em z ou s. Estão a «evoluir» para o jeito francês de não pluralizar.

Respondendo à pergunta de hoje: Os nomes próprios têm plural (os Pereiras, os Nêsperas, os Varelas, os Seguros, etc.).
Nota: Segundo o Ciberdúvidas, numa resposta dada em 1997, “Quando o nome de pessoa é constituído por mais de um vocábulo, costuma-se pluralizar apenas o primeiro: os Silvas Costa, os irmãos Rebelos de Andrade. E dizemos os irmãos Rebelos.
No entanto, o Montexto (referido no início da mensagem) fez-me chegar um comentário relativamente a esta resposta do Ciberdúvidas. Aqui fica uma regra útil (que não conhecia):
"Erram mais uma vez em parte as Ciberdúvidas.
A regra e prática é:
1. em nomes de duas palavras como Silva Costa, pluralizá-las a ambas: os Silvas Costas;
2. em nomes formados de duas palavras ligadas por «e», pluralizar só a segunda: os Cavaco e Silvas;
3. e em nomes de duas palavras ligadas por «de», pluralizar só a primeira, como precisamente os Rebelos de Andrade.
Ex. do caso 1: «Era o que uns solteirões da aldeia, uns Costas Castanheiras, diziam dum sobrinho, o mais novo de sete: "O Higino é um 'lapador'".»
Acabei agora de o ler no «Dicionário Falado», de Tomaz de Figueiredo, Verbo, p. 85.
E não procure nos dicionáros «lapador» porque apenas encontrará, nem nas Ciberdúvidas, que, fazendo jus ao nome, são realmente algo duvidosas nestas farfalheiras lexicológicas e sintácticas. - Montexto"
 
 
Abraço e, agora sim, bom resto de domingo!
AP
 


17 comentários:

  1. Mais um exemplo da hipótese 1:
    «De um velho ouvi contar, António de Sá Sotto-Mayor se chamava, proprietário de alavradeirada estirpe, que viveu na freguesia do Vale, das minhas terras de Valdevez...
    Ainda o conheci, era um trave de homem, o senhor Antoninho Sá, da paróquia de Santa Maria do Vale, onde SÁS SOTTO-MAYORES enxameiam, heráldicos e de mãos calejadas, afonsinos e caídos no caos da plebe, conforme a cota dum nobiliário.»
    Obras Completas de Tomaz de Figueiredo, «Dicinário Falado», Verbo, 1970, p. 91.
    Este não é certamente o português na versão «qual hoje o vês».
    - Montexto

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  2. Olá!
    Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo blog. Seus posts são muito criativos e úteis.
    Mas gostaria, também, de fazer umas perguntas se não se importar.
    Você, como um português, se ressente de alguma maneira pelo "Português" das colônias terem se distanciado do "Português" de Portugal?

    Você acha que a lingua falada no BRASIL ainda é o Português, ou já pode ser considerada como uma outra língua: o "Brasileiro"?

    As línguas ao longo dos tempos são inevitavelmente modificadas, readaptadas pelos seus usuários, é dessa forma que elas continuam vivas. De que maneira você enxerga essas constantes mudanças?

    No Brasil existem maneiras próprias de falar em cada região do país. Você considera essas variações linguísticas legítimas ou a única que deve ter prestígio é a variante padrão da Língua Portuguesa?

    Qual sua posição sobre o Novo Acordo Ortográfico?

    Sou brasileira e professora de português. Gostaria muito de saber como você pensa a respeito dos temas que propus.
    Se for possível coloque as respostas no comentário de algum post do meu blog.

    http://blogdadonarita.blogspot.com.br/

    Também quero convidá-lo para ser um membro do meu blog. Vou seguir o seu.

    Abraços.

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    1. Boa tarde, Rita!
      Obrigado pelas suas palavras simpáticas sobre o meu trabalho.
      Relativamente às suas perguntas, espero sair-me a contento.
      1. Você, como um português, se ressente de alguma maneira pelo "Português" das colônias terem se distanciado do "Português" de Portugal?
      O distanciamento nas formas de realizar uma língua falada por tanta gente, nos quatro cantos do mundo, é natural. Mais acentuado ao nível das pronúncias e do léxico, esse “afastamento” também se sente nas estruturas das frases, como é caso da colocação dos pronomes no Brasil em relação aos restantes países lusófonos. Mesmo em Portugal, que é um país pequeno, há pronúncias e palavras que variam em função das regiões. Encaro este fenómeno linguístico com muito interesse e sem qualquer ressentimento.
      2. Você acha que a língua falada no BRASIL ainda é o Português, ou já pode ser considerada como uma outra língua: o "Brasileiro"?
      Como a língua falada na Austrália, Canadá e Estados Unidos é, como na Inglaterra, o inglês, a língua falada no Brasil continua a ser o português. Aprendi em Linguística a designação “português do Brasil”, pois temos duas normas: a luso-afro-asiática e a brasileira.
      3. As línguas ao longo dos tempos são inevitavelmente modificadas, readaptadas pelos seus usuários, é dessa forma que elas continuam vivas. De que maneira você enxerga essas constantes mudanças?
      A língua, como organismo vivo que é, transforma-se e altera-se. Naturalmente, pelo uso, e por decreto, com as reformas ortográficas que vão sendo introduzidas, visando a sua simplificação, o que, apesar de 100 anos de polémicas, tem sido conseguido. Basta compararmos a forma como se escrevia até à Reforma Ortográfica de 1911 (implementada quase vinte anos mais tarde no Brasil) com a forma como escrevemos hoje.
      4. No Brasil existem maneiras próprias de falar em cada região do país. Você considera essas variações linguísticas legítimas ou a única que deve ter prestígio é a variante padrão da Língua Portuguesa?
      A ideia de impor a todos um padrão na oralidade não faz sentido para a Sociolinguística. Embora a forma de falar nalgumas regiões seja valorizada por alguns falantes (em Portugal, em Lisboa e Coimbra), a diversidade é uma riqueza. Já na língua escrita, a gramática não perdoa e é para todos.
      (CONTINUA)

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    2. (CONCLUSÃO DA RESPOSTA)
      5. Qual sua posição sobre o Novo Acordo Ortográfico?
      De início, pareceu-me uma boa ideia. Atualmente, conhecendo com detalhe o texto do Acordo e estando a aplicá-lo na minha escrita e na formação de professores, apercebo-me de vários pontos fracos em relação aos seus dois grandes objetivos: 1º Criar uma única norma para a regulamentação da língua;
      2º Simplificar a língua.
      Em relação à criação de uma única norma, basta conhecer o essencial das diferenças entre a norma brasileira e o português europeu para nos darmos conta de que tal objetivo é utópico. Poderá, quando muito, conseguir-se uma aproximação. Muitas diferenças irão manter-se e é natural que assim seja.
      Quanto à simplificação, fizeram-se avanços interessantes, mas podíamos ter ido mais além. Por outro lado, introduziram-se complicações desnecessárias em relação ao Acordo de 1945 (em Portugal) e ao Formulário de 1943 (no Brasil). É o caso dos pontos cardeais e colaterais com a noção de “empregados absolutamente” (que ninguém sabe muito bem o que significa).
      Sou um divulgador crítico do Novo Acordo (com o blogue http://acordo-ortografico.blogspot.com) e entendo que se deve aproveitar o facto de o Brasil ter alargado o prazo de transição até janeiro de 2016 para aperfeiçoar o texto e criar o prometido Vocabulário Comum.
      Principal inconveniente do Acordo: a divisão que tem originado entre os académicos e os falantes em geral, muitas vezes mais com a paixão que as convicções pessoais alimentam do que com argumentos intelectualmente honestos.
      Principal vantagem: a sistematização e simplificação do uso do hífen. Embora possa e deva ser aperfeiçoado, é um trabalho que merece a minha aprovação.
      E está dito! Procurei ser conciso, mas alonguei-me um pouco.

      Abraço luso.
      António Pereira
      P.s. Já sou membro do seu blogue (sou a AP).

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  3. Olá, amigo A.P!
    Gostaria de agradecer pela atenção que deu às minhas perguntas.
    Foi muito proveitoso e enriquecedor saber qual a posição de um amigo luso sobre as questões que envolve NOSSO idioma.
    Sim, o NOSSO foi destacado de propósito, pois confeço que suas respostas colocaram por terra alguns preconceitos que tinha por falta da oportunidade de conhecer o outro lado.
    O outro lado nesse caso seria a visão dos falantes portugueses com relação à Língua Portuguesa.
    Quando começou-se a falar sobre essa nova reforma ortográfica, as notícias que chegaram aqui falavam de resistência e, até certo ponto, de descontentamento por parte do portugueses. Como se mudar isso ou aquilo no idima lhes ferisse a honra de "colonizadores", de donos da língua.
    É certo que não posso afirmar que todos os portugueses compartilhem a mesma opinião que vc tem, mas é bom saber também que há quem veja, como eu, as mudanças da língua como algo positivo e natural.

    Abraços.

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    1. Olá, mais uma vez!
      As respostas que lhe dei refletem apenas o que penso. Por princípio, estou aberto à mudança. Para mim, o essencial no respeito pela língua é fazer dela o que deve ser: um veículo de comunicação eficaz. Logo, devemos ser leitores treinados e críticos (não apenas de jornais e revistas, mas também da riquíssima literatura lusófona) e escrever de forma clara e organizada. Dessa forma, mostramos o nosso amor pela língua. Quanto à ortografia, é apenas uma convenção. "Aflito" já foi "aflicto"; "ideia" já foi "idéia"; o "sozinho" de hoje... aprendi-o como "sòzinho" no liceu; e até "sapato" já teve este aspeto chocante: "çapato"!
      No entanto, embora não disponha de dados estatísticos, parece-me que a maior parte dos falantes portugueses são contra o Novo Acordo.
      Abraço e bom fim de semana!
      António Pereira

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  4. E como faremos se o nome for por ex. o do autor de «Quem Tem Farelos?»Beira», caro António Pereira?
    - Montexto

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    1. Se fosse "Vicente da Beira", aplicando a regra que me enviou, seria "Vicentes da Beira". Sendo apenas "Beira", talvez "Beiras" para fugir do "jeito francês de não pluralizar"...
      AP

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  5. Claro. Correcto não podia ser de outro modo.
    Mas «Beira» ficou por engano porque antes escolhera o «Clérigo da Beira».
    A dúvida ou pergunta mantém-se.
    - Montexto

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    1. Valha-me Deus, que só me faltava o "Clérigo"...
      Se o desafio não estiver armadilhado, aplicando a sua regra 3., teríamos "Clérigos da Beira".
      AP
      P.s. Já reformulei a mensagem sobre a abreviatura de Dona. Uma trabalheira!

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  6. Mais que óbvio. Nem eu perguntaria isso. Apre!
    Não é isso, meu caro. Refiro-me ao nome do autor dessa farsas.
    - Montexto

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    1. A compreensão lenta nem sempre me deixa ver o "mais que óbvio"...
      Embora não soe bem, aplicando a sua regra, teríamos "Gis Vicentes".
      AP

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  7. Não vejo por que hemos de afastar a regra, pluralizar Gil como qualquer palavra terminada em «il»: arrabil, arrabis, adail, adaís, funil, funis. E como Abel, Abéis, Abel Botelho, Abéis Botelhos, Manuel Bernardes, Manuel, Manuéis, Manel, Manéis, Manuéis Bernardes, etc.
    *
    Mas já lhe digo como fez Agostinho de Campos.
    - Montexto

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  8. De admirar é que Agostinho de Campos tivesse deixado os nomes no singular na sua tradução da Literatura Portuguesa (História e Crítica), de Aubrey Bell, Imprensa Nacional, Lx, p. 197:
    «Concludente é, porém, na verdade o estilo das duas obras. Uma só geração não produz dois Fernão Lopes, do mesmo modo que não pode produzir dois Montaigne ou dois Malory.»
    Já mais à frente pluraliza o de Gil Vicente: «… a conclusão de que os dois Gil-Vicentes eram tio e sobrinho», p. 140.
    - Montexto
    Um plural algum tanto… singular, quando menos…

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  9. . «Além disto, era parente afastado da grande família italiana dos Colonna (como também de Garcilaso)», p. 180.
    Mas logo adiante:
    «A alguns quilómetros de distância, na disseminada aldeia de Cabeceiras de Basto, tinha outros amigos íntimos, os Pereiras, e um destes dois irmãos, António Nun’Álvares Pereira, fez-lhe presente pouco antes de ele casar, de um manuscrito com as poesias de Garcilaso de la Vega», p. 183.
    Intermitências da regra…
    - Mont.

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    1. Sem intermitências, como a vida, que graça tinha a língua?
      Abraço.
      AP

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  10. «Muitos rapazes indiscretos paravam a contemplá-lo à portas dos srs. Pintos Leites, na calçada dos clérigos, nos primeiros quinze dias no seu matrimoniamento.»
    Camilo, Anos de Prosa, «Conclusão».
    *
    E tb não os srs. Pinto Leites como dizem que andam para aí a contrabandear.
    *
    Só se ligados por hífen:
    «Pois ignorava que o solar dos Porto-Carreiros, fidalgos mais velhos que a monarquia trezentos anos», etc;
    «Duas famílias ventilaram em Portugal e porfiadamente a origem dos Porto-Carreiros» – VII, 66-67, ob. cit..
    - Montexto

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