Fonte da imagem: AQUI.
Este é um verdadeiro bico de obra da nossa língua. O assunto, mais do que qualquer outro, terá de ser apresentado por pontos para evitar baralhar as ideias. As minhas e as vossas...
1. A maneira mais
simples que sempre segui para ajudar os meus alunos a tomar, com um grau de
certeza elevado, a decisão certa foi dar-lhes duas dicas:
A. De mais é equivalente a “demasiado”, "a mais” e, ao contrário de demais, é substituível por “de menos”. Exemplo: “Ele come gelados de mais.”
B. Nos casos não
abrangidos em A., a opção certa é, muito provavelmente, demais, que pode significar
“além disso” (“Não, não te vou perdoar; demais, nem desculpa me
pediste!”) ou “os restantes”/“os outros” (“Os alunos da fila junto à porta
podem sair. Os demais aguardam mais um
minuto.”).
2. Na rubrica “Pelourinho”
do Ciberdúvidas (AQUI), Regina Rocha:
a) defende que se
deve escrever de mais para exprimir a
noção de quantidade (“Nenhuma vida é de
mais.”);
b) para exprimir
a intensidade (correspondente a “muitíssimo”, “em demasia”), propõe demais (advérbio de modo) como intensificador de formas verbais,
advérbios ou adjetivos. Dá como exemplos: «Aquele rapaz dorme demais.» «A jarra é frágil demais; vai partir-se.»
«Para aquele pasquim, ele escreve bem demais.»
3. O FLIP, nas “Dúvidas
Linguísticas”, faz uma abordagem aprofundada do assunto, recorrendo a várias
fontes. Para Rebelo Gonçalves, por exemplo, de
mais
pode ser associado a quantidade, mas também a intensidade, contrariando a
posição de Regina Rocha (referida no ponto 2.). Transcrevo o parágrafo final da
resposta:
“Por este motivo, excluindo os dois contextos referidos
inicialmente (ex.: entregou a certidão, mas os demais documentos serão enviados pelo correio; considerou o resultado
insuficiente, demais
nunca gostara daquele serviço), poderá ser opcional o uso de de mais
ou de demais.
Por outro lado, a expressão de
mais pode ainda corresponder apenas à preposição de seguida do
pronome indefinido mais, sem qualquer unidade sintáctica ou semântica (ex.:
serviu-se de [mais] arroz; a entrada de [mais] pessoas pode criar problemas de
sobrelotação; precisava de [mais] dinheiro) e nesse caso, obviamente, não
poderá ser utilizada a forma demais.”
4. O blogue http://linguamodadoisec.blogspot.pt
apresenta uma explicação semelhante à referida em 1., mas acrescenta: “No
entanto, tem havido uma tendência crescente para escrever a locução de mais
como uma só palavra, a tal ponto, que alguns dicionários, como o Priberam (da
Texto Editores), já atestam que demais
significa o mesmo que demasiado, assim como algumas gramáticas, como a Saber
Falar, Saber Escrever (Dom Quixote), incluem demais nos advérbios de quantidade.
Mais uma vez, conclui-se
que os falantes é que vão moldando a língua de acordo com a sua vontade.”
Demais OU de mais?
1) DEMAIS significa
“excesso, muito, demasiadamente ou o restante”: “Ela trabalha demais”; “Comeu demais”; “Os demais podem voltar para casa”.
2) DE MAIS equivale a “a
mais”, opõe-se a “de menos”: “Recebeu dinheiro de
mais
(= a mais)”; “Não tem nada de mais (nada de menos)”.
6. Leia uma explicação de Cláudio Moreno (Brasil) mais desenvolvida, clicando AQUI.
7. Para a explicação mais completa sobre o assunto que encontrei (no Ciberdúvidas), clique AQUI.
8. CONCLUSÕES (para toda a lusofonia):
1. Como dica orientadora, transcrevo um extrato do artigo referido
no ponto anterior: “Regra prática para escolher a forma adequada: opor de mais a de menos. Se de menos for possível, é natural que de mais também seja possível.”
2. Se estiver em estado desesperado ou em dúvida (mesmo depois de
aplicar o teste com o “de menos”), escreva demais!
3. Se for professor(a), seja tolerante, pois esta é uma matéria
que não tem nada de simples e as fontes não são coincidentes. Pode aceitar
opcionalmente demais ou de mais, exceto quando o sentido for “os outros” ou “além disso”. Aí, só
pode ser demais.
Abraço.
AP
P.s. De mais é uma locução adverbial, enquanto demais pode ser um
pronome ou um determinante demonstrativo (quando significa “os outros”), um
advérbio (quando corresponde a “além disso”) ou um adjetivo (“Ela é demais!”).