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abril 29, 2013

.defender-se de OU defender-se contra?

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A zebra defende-se DO leão!

É frequentemente ouvirmos e lermos a estrutura “defender-se contra”. É aceitável? Não sendo um erro terrível, é uma construção a evitar. A preposição que encaixa na perfeição neste verbo pronominal é “de”. É essa a opinião do filólogo Rodrigo de Sá Nogueira, no Dicionário de erros e problemas de linguagem, página 149.
Logo, devemos dizer: “defender-se do inimigo”, “defender-se das acusações”, “defender-se das injustiças”, etc.

Conclusão:
Portugal e Brasil
Deve dizer-se: defender-se de

Abraço.
AP


abril 28, 2013

.Qual a origem da palavra açúcar?

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A. A PLANTA
A origem provável da cultura da cana-de-açúcar está na região da Índia (6000 anos A.C.), não passando, na antiguidade, de uma especiaria exótica, utilizada apenas como tempero ou remédio. Os alimentos eram adoçados com mel.
O açúcar chegou à Europa apenas em meados do século XII, estendendo-se a outras regiões nos séculos seguintes, especialmente ao Extremo Oriente. O interesse pela especiaria aumentou de forma significativa depois de, no século XV, novas bebidas como o café, o chá e o chocolate, adoçados com açúcar, terem conquistado o paladar europeu.
Há registos desde 1521 sobre a cultura da cana-de-açúcar no Brasil.

B. A ORIGEM DA PALAVRA
Embora tenhamos em latim a palavra saccharum (com origem no sânscrito?), que dá o nome científico à planta da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) o português açúcar e o castelhano azúcar vêm diretamente do árabe as-sukkar.

E de onde vem o árabe? Refiro duas explicações:
1.   Para a “Revista Língua” (fonte nº 1), o termo nasce no sânscrito sarkara (“grãos de areia” ou “grãos doces”), passa pelo persa shakar e desagua no árabe como sukkar. Com a incorporação do artigo al e posterior assimilação, a forma al sukkar evoluiu para assukkar.
2.   José Pedro Machado (fonte nº 2) diz, no seu dicionário etimológico, que o árabe as-sukkar vem do grego sákchar ou sákcharon, não referindo o sânscrito...

Notas complementares:
*No século XIV, a palavra escrevia-se ainda sem acento: açucar.
*Encontramos no século XVI uma variante ortográfica curiosa: açuquere.

C. CURIOSIDADE
Considerado na atualidade como uma maldição para a saúde do planeta, no final do século XII, o cronista cruzado Guilherme de Tiro descreveu o açúcar como "muito necessário para o uso e saúde da humanidade"…

D. FONTES
2. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa: José Pedro Machado, Livros Horizonte, 1977).

 
Abraço recheado com o doce prazer da partilha!
AP

abril 27, 2013

.Enviar um SMS ou uma SMS?

Mensagem encontrada AQUI.
SMS é a sigla do inglês: Short Message System.
Numa rápida viagem pela internet, concluí que, na maior parte dos casos (incluindo as operadoras de telemóveis), tanto em Portugal como no Brasil, o mais comum é dizer “enviar um SMS”. A sigla deve ser associada ao género masculino ou ao género feminino?
Recorro à única resposta sobre o assunto, dada em 2010, no Ciberdúvidas:
Assim, se nos referirmos ao sistema, SMS é do género masculino: um sistema de pequenas mensagens.
No entanto, o que é mais natural, se nos referirmos à mensagem propriamente dita, o género é feminino.
Assim, eu escreveria: `enviar/receber uma mensagem pelo SMS´, e `enviar/receber uma SMS´, designando a mensagem pelas siglas do sistema.
O que não me parece bem é escrever ou dizer *`enviar/receber um SMS´, pois o que enviamos/recebemos caso a caso são mensagens e não o sistema que usamos.” Logo, para o autor da resposta (D’Silvas Filho), deveríamos dizer “enviar uma SMS”.

Comentário:
Tem lógica a explicação de D’Silvas Filho, mas é um pouco “retorcida” e pouco prática. Muito mais operacionalizável é a opinião do dicionário Priberam: embora distinga, como faz o Ciberdúvidas, os dois sentidos possíveis (1. Serviço que permite o envio de mensagens de texto, geralmente curtas, para telemóveis. 2. Cada uma dessas mensagens.), diz que a sigla tem dois géneros, legitimando, assim, a possibilidade de dizermos “enviar um SMS” ou “enviar uma SMS”.
O dicionário online da Porto Editora também regista a sigla, mas não indica o género. Quanto aos dicionários brasileiros que consultei, não registam SMS.

Conclusão:
Pelo exposto, apesar do que diz o Ciberdúvidas, parece-me que, considerando o uso e as explicações técnicas, poderemos dizer: enviar um SMS” ou “enviar uma SMS”.
IMPORTANTE: Se encontrar novos dados que alterem esta conclusão, voltarei ao assunto e reformularei as conclusões.
Informação complementar:
O plural de SMS é... SMS!
Informação útil:
Uma mensagem SMS tem um limite de 160 carateres. Pormenor importante: cada acento conta como um caráter...
Abraço.
AP

abril 23, 2013

.Qual a origem da palavra "manteiga"?

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Como acontece com muitas e muitas palavras, sentimo-nos tentados a apostar no latim como origem da palavra manteiga
A consulta dos dois dicionários portugueses disponíveis online não foi esclarecedora: enquanto o da Priberam diz que a palavra é de “origem duvidosa”, a Infopédia nada diz.
Uma resposta de F. V. Peixoto da Fonseca, consultor do Ciberdúvidas, em 2007, não sendo taxativa, dá-nos pistas interessantes:
A origem da palavra é, de facto, obscura, mas, segundo se julga, pré-romana. Por este motivo, e dado que o basco já se falava na Península antes da vinda dos Romanos, muitos têm atribuído tal proveniência ao termo manteiga. Por curiosidade, em latim dizia-se butyrum, vocábulo originado no grego. Do latim vieram as denominações italiana, provençal, francesa, inglesa e alemã, enquanto o espanhol e o catalão as foram buscar à mesma língua que o português.

Conclusão:
A origem de manteiga, que não está no latim, é situada por muitos no basco.
Obs.:
1. Curioso, fiz uma pesquisa para descobrir como se diz manteiga em basco: gurin! Se para muitos, manteiga, mantequilla, mantega (catalão) provêm do basco, que relação há entre estes termos e a forma gurin?
2. E em romeno, outra língua latina, diz-se unt...

Abraço e muitas torradinhas com manteiga, se for do vosso gosto!
AP


abril 22, 2013

.A origem da palavra "fígado" está no "figo"?

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Consultando o dicionário online da Porto Editora (http://www.infopedia.pt), podemos ler: Do latim ficătu-, por ficātu-, «fígado guarnecido de figos; fígado».
Explorando esta relação fígado-figo, consultei várias fontes. Entre elas, destaco esta do Professor Paul Henriques:
a palavra "fígado" tem a ver com figo? Pois tem. No latim culto, havia a expressão iecur ficatum, que denominava prato bastante apreciado pelos romanos, o fígado de animais - especialmente gansos e porcos - alimentados com figos. Como achavam que assim o fígado ficava mais gostoso, esse prato era muito valorizado. (…) A palavra passou para a nossa língua através do latim popular ficatu, até chegar à forma atual, "fígado". (http://www.paulohernandes.pro.br/vocesabia/001/vcsabia015.html)

Notas complementares:
1.   O nome que designava fígado era jecur. Ficatum vem de ficus (étimo de figo) e quer dizer “farto de figo”. Na evolução da língua, perdeu-se o elemento jecur, tendo ficado ficatum (que passou de adjetivo a nome) a designar o importante (e saboroso para os apreciadores…) órgão nas línguas latinas: fígado (português), foie (francês), hígado (espanhol), italiano (hegato), romeno (ficát)…
2.   Numa outra fonte (http://forum.wordreference.com/showthread.php?t=753416), a explicação é semelhante, mas o petisco seria apenas fígado guarnecido (ou recheado) com figos…
 
 
A concluir, reproduzo o título bem expressivo de um artigo do blogue veja.abril.com.br: Todo fígado contém a sombra de um figo.
 
 
Abraço.
AP


abril 19, 2013

.Qual a origem da palavra Portugal?

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Itinerário histórico: Parta de portu Cales, «o porto chamado Cales», siga por Portucale (século V), continue por Portugale (século VII) e chegará, no século X, a Portugal!
Curiosamente, à partida, portu Cales aplicava-se apenas à cidade do Porto, acabando por vir a designar todo o país.
Se política e administrativamente se considera ter sido Guimarães o berço da nacionalidade, na formação do topónimo-mor da nação, o Porto parece ter sido a nossa baby-sitter

Curiosidade: A laranjeira foi trazida para Portugal no século XVI, tendo sido os portugueses a introduzi-la na Europa. Em vários países, Portugal é conhecido como “o país das laranjas” e, em diversas línguas, a designação de laranja é… Portugal!
Exemplos: romeno (portocálâ), búlgaro (portokal’), grego (portokál) e turco (portokal). O mesmo acontece com o persa (falado no Irão, Afeganistão, Tajiquistão, Paquistão, Usbequistão, Armênia, Turcomenistão, Azerbaijão e no Barém) e com o árabe.

 
Abraço.
AP

Fontes:


abril 17, 2013

.Qual a origem da palavra turismo?

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Uma consulta aos dicionários de língua portuguesa, na entrada turismo, dá-nos esta informação: do inglês tourism, pelo francês tourisme.
Segundo a fonte 3., o termo inglês terá surgido em 1841, quando Thomas Cook abre, em Inglaterra, uma agência de viagens, podendo a sua origem estar no francês tour (“volta”).
Mas:
a) O leitor Montexto chama a atenção para o facto de, em 1838, Stendhal ter publicado, em dois volumes, uma recolha de narrativas de viagens intitulada: Mémoires d'un touriste;
b) Segundo a fonte 4., tourist surge pela primeira vez por volta de 1800 e tourism é introduzido no Dicionário de Oxford em 1811: "The term "tourist", meaning "an individual who travels for the pleasure of travelling, out of curiosity" made its first appearance around 1800, and the word "tourism" was cited for the first time in the Oxford English Dictionary in 1811."
Considerando a dureza de outros tempos, pouco dados a luxos, não surpreende que o termo tenha tido entrada na língua portuguesa apenas no século XX.
Citando o Ciberdúvidas, “terá sido a aristocracia inglesa a responsável pela criação do termo e do conceito em questão. Era hábito no século XVIII enviar os jovens ingleses, de meios nobres ou abastados, numa viagem pela Europa (normalmente, até Itália), para completar a sua educação.

Fontes:

Abraço.
AP

abril 16, 2013

.Divisão silábica: ca-rro OU car-ro?

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Num comentário à mensagem em que divulguei o Dicionário de Divisão Silábica do Portal da Língua Portuguesa (AQUI), um leitor deixou-me este comentário:
esse dicionário apresenta não a divisão silábica, mas sim a translineação, certo?
pássaro: divisão silábica pás-sa-ro?!? Isto é na translineação, a divisão silábica seria pá-ssa-ro correto?

O leitor parece ter razão, mas, como sabemos, “as aparências iludem”…
Analisemos então a questão, ponto por ponto.

A.
1. Atente-se nesta resposta do Ciberdúvidas, dada, em 2007, por Edite Prada: “Do ponto de vista da divisão silábica essas duas consoantes representam o mesmo som e mantêm-se juntas, sendo a divisão, respe(c)tivamente, como o consulente refere, ca-rro e co-rri-da. Diferente desta convenção de escrita que nos permite distinguir dois sons é a convenção subjacente à translineação, que, em língua portuguesa, prevê a separação dos dígrafos (ou grupos de duas letras, normalmente equivalendo a um só som) quando eles ocorrem em posição que implique o corte da palavra para mudança de linha.
Assim, em translineação e em palavras como carro e corrida, separam-se as duas consoantes car-ro; cor-ri-da.
2. Encontrei a mesma divisão silábica (ca-rro) na Gramática de Língua Portuguesa, de Helena Mira Mateus e outros, 2003 (página 1039).
3. Aprendi e sempre ensinei ca-rro.
Seguindo este ponto de vista, teríamos a divisão silábica pá•ssa•ro.

B. A Base XX do Novo Acordo Ortográfico (AO90) é dedicada à divisão silábica e diz, seguindo de perto a Base XLVIII do Acordo de 1945, no ponto 2: “São divisíveis no interior da palavra as sucessões de duas consoantes que não constituem propriamente grupos e igualmente as sucessões de m ou n, com valor de nasalidade, e uma consoante: ab-dicar, (…) cor-roer, pror-rogar; as-segurar, bis-secular, sos-segar; bissex-to, contex-to, ex-citar, atroz-mente (…), etc.
De acordo com este ponto, teríamos a divisão silábica pás•sa•ro.

Conclusões:
1. Consoante as fontes que seguirmos, podemos apresentar a divisão silábica pá•ssa•ro (a prática mais comum) e pás•sa•ro (a mais “legítima” se tivermos em conta que os textos dos Acordos de 1945 e 1990 a consagram). Em relação à translineação, as únicas possibilidades são pás-sa-ro.
2. O Dicionário de Divisão Silábica do Portal segue o que está estipulado no AO, apresentando a divisão pás•sa•ro. No entanto, noutros casos, são seguidas as habituais regras da divisão silábica. Exemplos: é•gua, í•man, ru•a, lu•a e mei•a (indivisíveis na translineação).
Nota 1: A generalidade das gramáticas que consultei dedicam muito pouco espaço à divisão silábica (menos ainda à translineação) e evitam exemplos com rr e ss. Nem a excelente Nova Gramática do Português (1984), de Celso Cunho e Lindley Cintra, foge à regra…
Nota 2: E como é no Brasil? O Formulário Ortográfico de 1943 não deixa dúvidas: “As vogais idênticas e as letras cc, cç, rr e ss separam-se” (Base XV). Logo, as conclusões acima apresentadas também são válidas para o Brasil.
Nota 3: Poderá ler a mensagem dedicada à translineação AQUI.

Abraço.
AP


abril 15, 2013

.escuteiro ou escoteiro?

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Complicadinha, a questão de hoje! Vou tentar ser claro e organizado.

Brasil
O termo mais utilizado no Brasil é escoteiro, sendo a variante escuteiro considerada um lusismo, como podemos constatar no Houaiss.

Portugal
Rebelo Gonçalves, no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), apresenta escoteiro como variante brasileira de escuteiro, seguindo o que está no Vocabulário Ortográfico Resumido da Língua Portuguesa, de 1947. Encontramos a mesma perspetiva noutros dicionários, sobretudo até ao final do século XX.
No Ciberdúvidas, o consultor F. V. Peixoto da Fonseca, em 1998, diz: “Escuteiro (membro da associação fundada por Baden Powell) em Portugal, mas escoteiro no Brasil. Escoteiro, com o, entre os portugueses, é aquele que viaja sem bagagem, e, como adjectivo, significa «veloz» (cf. F. Rebelo Gonçalves, «Vocabulário da Língua Portuguesa», 1966).
Em 2007, no mesmo Ciberdúvidas, a dupla Luís Filipe B. Teixeira/José Mário Costa dizem-nos: “Em português, o seguidor filosófico do pensamento de John Duns Escoto (1274-1308) chama-se escotista, sendo que a doutrina filosófica se deverá designar por escotismo, à semelhança, é certo, com o movimento juvenil fundado por Baden-Powell (1857-1941), embora neste caso a forma mais corrente em Portugal seja com "u" (escutismo).
Recorrendo aos argumentos apresentados pelas organizações ligadas ao escutismo/escotismo, complicam-se as coisas. Transcrevo um extrato do FLIP: “é esclarecedora a breve nota a que podemos aceder no sítio da Associação de Escoteiros de Portugal, que nos apresenta brevemente a história do movimento, salientando que esta foi esta primeira associação de Portugal que utilizou a palavra escoteiro, já existente na língua e com o significado de "pessoa que viaja sem bagagem", para traduzir o inglês scout. Só mais tarde apareceu o Corpo Nacional de Escutas, movimento católico que assumiu uma dimensão maior e que, para a tradução de scout, utilizou a palavra escuta (de que depois derivaram escuteiro e  escutista), já existente na língua como derivado regressivo do verbo  escutar.

Conclusões:
PORTUGAL
BRASIL
A. Devemos escrever escoteiro para nos referirmos:
a) ao pensamento de Jonh Duns Escoto;
b) a quem viaja sem ou com pouca bagagem.
B. Falando de quem pertence a uma associação de escotismo/escutismo, podemos escrever escoteiro ou escuteiro.
DICA: Jogue pelo seguro e escreva sempre escoteiro.
.Em todas as situações: escoteiro.
Nota: Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, a palavra escoteiro está documentada desde o século XVI, sendo a grafia escuteiro bem mais recente.

Abraço.
AP
Fontes consultadas: