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dezembro 31, 2016

Qual a origem e história da palavra RÉVEILLON?

Ortografia criativa...

Não será propriamente uma surpresa dizer que réveillon é um estrangeirismo importado da língua francesa.
E se hoje a palavra designa a festa de fim de ano e as comezainas que lhe estão associadas, nem sempre foi assim.
A palavra data de meados do século XIV, mas só surge associada à comida por volta de 1530, significando “pequena refeição feita à noite na companhia de outras pessoas”.
No final do século XVIII, a palavra designava “uma espécie de divertimento que se pratica em França, depois da missa do galo à meia-noite.” (de 24 para 25 de dezembro).

CONCLUSÕES:
A. Há quase 500 anos, a palavra referia-se a uma refeição leve, feita à noite, que mantinha as pessoas acordadas.
Notas: A análise linguística da palavra permite compreender porque tinha este sentido:
1. O sufixo “on” é, neste caso, um diminutivo.
2. Réveillon tem origem no verbo réveiller, que significa “acordar” e, em sentido figurado, “reanimar”. Ou seja, o réveillon é o despertar do novo ano.
B. 300 anos mais tarde, passou a designar a ceia de véspera de Natal.
C. Só no século XX, ganhou o sentido das celebrações do Ano Novo.
Nota: No francês atual, a palavra designa a festa de Ano Novo, também a ceia de Natal: “fête que l'on fait la nuit de Noël ou le 31 décembre”.

Que seja um bom réveillon para todos!
ProfAntónio

Fontes consultadas:

dezembro 30, 2016

Ano Novo OU ano novo?


A. Em Portugal, segundo o AO45, escrevíamos com maiúscula ou minúscula, em função do sentido.
B. No Brasil, era sempre com minúscula, conforme determinava a secção XVI, artigo 10º, do Formulário Ortográfico de 1943: “Os nomes das festas pagãs ou populares escrevem-se com inicial minúscula: carnaval, entrudo, saturnais, etc.

CONCLUSÕES:
  Segundo o AO90
PORTUGAL e BRASIL
1. Falando das festividades do 1.º dia do ano, maiúscula
Hoje é dia de Ano Novo. (Ano-Novo no Brasil*1)
 
2. Se nos referirmos ao ano inteiro, contrastando com o "ano velho", minúscula:
Feliz ano novo! (= Feliz 2014)!

*1: Os dicionários brasileiros oscilam entre as grafias ano novo e ano-novo. O VOLP da Academia Brasileira de Letras opta pela hifenização, classificando a expressão como substantivo masculino. 
Fontes: FO43, AO45, AO90 e Ciberdúvidas.

Abraço e… bom ano novo para todos e divirtam-se no dia de Ano Novo!
ProfAntónio
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Qual a origem da palavra GUINÉ?

Aparentemente, a única informação certa é de que a origem do termo GUINÉ é incerta. Ainda assim, transcrevo a hipótese que encontrei há pouco num site.

1. “Ao que parece, a palavra Guiné viria do nome de uma aldeia fundada pelos anos 1040, nas margens do Alto-Níger. Pela sua situação geográfica, essa aldeia tornou-se encruzilhada das caravanas que faziam o comércio do Sudão e da África meridional com os Mandingas e os Árabes do Norte. Daí a sua prosperidade e a sua reputação que, graças aos mercadores árabes, atingiram os países europeus. No decorrer dos séculos, a palavra Guiné teve várias grafias: Guinea, Guinanha, Guinee, Jenni, Genni, Dgenni, etc., outras tantas tentativas de adaptação à grafia e à fonética das línguas ocidentais.”
2. “No início, a palavra Guiné é empregada sem artigo, como atrás se viu.”
3. “Foi só a partir do século XIX - parece-nos que se começa a empregar Guiné no feminino.” 
4. “Podemos concluir que a palavra - chave deste trabalho - Guiné - é de origem africana, que esta palavra teve várias grafias com o fim de tentar adaptar a pronúncia local à grafia e à fonética das línguas ocidentais.   Em crioulo, segundo as nossas convenções pessoais, escreveríamos Gine.”

Informações encontradas no site http://nhagente-bissau.yolasite.com/ (fonte original: “O crioulo da Guiné-Bissau Filosofia e Sabedoria”, de Benjamim Pinto Bull).


Abraço.
ProfAntónio
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dezembro 28, 2016

Deve dizer-se "à borla" ou "de borla"?


Tanto no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa como no Houaiss, as expressões «à borla» e «de borla» são apresentadas como equivalentes.
Muito interessante é a origem da palavra “borla”, associada ao mundo da prostituição…

A palavra borla – que se distingue da sua homónima, com significado de pompom, ou insígnias de doutor – tem a sua primeira ocorrência datada de 1858, significando, segundo o dicionário Houaiss, «calote passado em prostituta»; adquire, depois, tanto em Portugal como no Brasil, o sentido de ajuda, «gozar um prazer ou aproveitar gratuitamente um serviço». No mesmo dicionário propõe-se como origem provável uma pronúncia alternativa, ou corruptela, da palavra burla, que, uma vez identificada como palavra diferente, adquiriu o seu significado também distinto.

Abraço.
ProfAntónio
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dezembro 26, 2016

O aproveitamento sem pudor dos resultados do PISA...

Não me deixo encantar por mensagens de Natal de governantes, sejam eles quais forem. Mas não pude deixar de me espantar ao ouvir o vice-presidente do CDS, Adolfo Mesquita Nunes, a reclamar os méritos dos resultados dos alunos portugueses no PISA (aplicado em 2015).
1. Ironia das ironias, a metodologia dos testes está nos antípodas da filosofia de ensino-aprendizagem defendida e aplicada por Nuno Crato. É bom não esquecer que as metas foram introduzidas como contraponto às competências, apelidadas depreciativamente com expoente do “eduquês”. E não é que a avaliação PISA é um hino às competências?
2. Por outro lado, como diz Santana Castilho, num excelente artigo publicado em 17 de dezembro, nunca se viu tanta gente que antes os e as denegriu, sem dó, a tecer loas aos professores e às escolas. Hipocrisia ou memória curta?
3. O extrato que transcrevo mostra a falta de informação ou um aproveitamento pouco sério de algo para que não se contribuiu.
Nuno Crato pôs de lado a tese da década perdida e escreveu que os factores mais importantes que explicam os progressos dos resultados do PISA de 2012 para 2015 foram: “novos e ambiciosos objetivos curriculares - as metas curriculares - e novas avaliações - as provas finais nos 4.º e 6.º anos de escolaridade.” Ora se atendermos ao facto de os exames dos 6º e 4º anos terem sido introduzidos, respectivamente, nos anos lectivos de 2011/12 e 2012/13 e tivermos presentes as características da amostra usada nos testes do PISA 2015, podemos afirmar que nenhum aluno que a integrou foi submetido a qualquer dos exames invocados, pelo que é aberrante atribuir-lhes impacto nos resultados. No que toca às metas (veja-se o calendário estabelecido no DR nº 242, 2ª série, de 14/12/12) e ainda que se admitisse o efeito “tiro e queda”, o que em Educação é grotesco, elas nem chegaram a tocar um quarto dos alunos que prestaram provas em sede do PISA 2015.
https://www.facebook.com/notes/santana-castilho/o-topete-dos-pais-apressados-do-pisa/1332746900108951

Em vez de se porem aos saltinhos a tentar cavalgar a onda das estatísticas, seria bem melhor que governantes e ex-governantes aprendessem com o PISA (cuja estrutura muitos deles desconhecem) e aplicassem os conhecimentos adquiridos na construção das provas dos exames nacionais.

Abraço.
ProfAP
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dezembro 24, 2016

Como é: pais natal OU pais natais?


Há tempos, num programa de televisão, a apresentadora hesitava neste plural. Começou por dizer “pais natal”, autocorrigindo-se logo a seguir: “Não, pais natal é que é!”
Não é, não…

Demos a palavra ao Ciberdúvidas:
A expressão Pai Natal é relativamente recente na língua portuguesa. Provém do francês Père Noël (= Pai Natal). No Brasil, adotou-se Papai Noel. (…)
O Pai Natal com maiúsculas, inspirado na lenda de São Nicolau, é só um. Emprega-se no singular. Mas são muitos os pais natais ou papais-noéis que por aí andam a imitá-lo. Neste caso, José Neves Henriques e os dicionaristas brasileiros admitem o plural (pais natais / papais-noéis). (…)
A linguagem da TV e da Rádio, infelizmente, não pode servir de norma, pois todos vemos que nem todos os locutores e jornalistas sabem percorrer o caminho da corre(c)ção da linguagem.

RESPOSTA: O plural certo é…
PORTUGAL
BRASIL
pais natais
Papais Noéis
Obs.: Minúscula no singular, mas minúscula no plural.
Obs.: Maiúscula tanto no singular como no plural. Usa-se minúscula e hífen quando nos referimos a um presente natalício (algo que não temos em Portugal): “Não sei o que vou escolher de papai-noel”. (Houaiss)

Abraço e bom Natal!
ProfAntónio
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dezembro 23, 2016

O meu CENTÃO de Natal para todos os leitores!

Esta é uma atividade lúdica e pedagógica de que ouvi falar, já lá vão uns anitos, em Vichy, numa formação para professores de Francês.
Bastante praticada na Antiguidade (sobretudo na Grécia) como treino para a leitura, passando pela Idade Média até ao século XVII, encontramos ainda exemplos desta técnica na atualidade.
A ideia é “escrever” com as palavras dos outros, escolhendo extratos de vários poetas (ou do mesmo poeta) e, sem alterar nada (nem a pontuação), compor um novo texto com coesão e coerência.

Com origem no latim no latim centone (manta de retalhos), o CENTÃO é uma “composição poética ou musical, de origem greco-latina, formada por uma “manta de retalhos” (…) de sentenças, expressões alheias, versos ou melodias de vários autores (pot-pourri), ou de um só autor. É condição fundamental que o centão reconstitua os elementos dispersos de que parte até obter uma nova composição, com um novo sentido. Pode-se aproximar este conceito da ideia de bricolage. Os poemas homéricos e virgilianos deram origem a muitos centões, sobretudo a partir da era cristã. Na Renascença italiana, Dante e Petrarca também inspiraram centões.” (In http://edtl.fcsh.unl.pt/business-directory/6648/centao/)

Depois de alguma transpiração intelectual, aqui fica o meu CENTÃO de Natal.

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Cada criança é o Céu que vem
Pra nos remir do pecado

É tempo de Natal. Exibe-se um pinheiro,
Com lâmpadas de cor, 
E o cepo a arder nas cinzas do brasedo...

Natal, antes e agora   
imutável.
Natal: os mesmos sinos
de repiques iguais.
Brinquedos e meninos,
Natal de outros natais.

Aí vem a estrela! Aí vem, sobre a montanha,
Rompendo a sombra etérea do crepúsculo!
Assim que o Anjo descer,
Hei de sentar-me na estrada
Ao pé da hora marcada
Para o menino nascer.

Vou aceitar este Natal, tal como está.
Embriagar-me de luz, de sons e de ilusões. 

Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia...

É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

Natal!...Natal!...
A boca o diz,
A mão o escreve,
O coração já não sente.

Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?

Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada. 

Autores escolhidos: Vinicius de Moraes, António Manuel Couto Viana, Afonso Duarte, Mauro Mota, Alberto de Serpa, Teixeira de Pascoaes, Reinaldo Ferreira, Cândido da Velha, David Mourão-Ferreira, António Gedeão, Jorge de Sena.

Abraço e que seja um bom Natal para toooodos vóoos!
ProfAntónio
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dezembro 22, 2016

Prémio “Direitos Humanos 2016”: um exemplo de “rigor” e “transparência”…


O prémio “Direitos Humanos 2016” da Assembleia da República, no valor de 25 mil euros, foi atribuído a António Guterres, por decisão votada unanimemente por uma comissão de deputados de todas as bancadas parlamentares.

Parece pacífica a decisão, mas não é. 
Uma organização não governamental (que se candidatou ao prémio) denunciou a situação e, à luz do regulamento, parece ter razão.
Ora, António Guterres não cumpre nenhum dos critérios.
1.º- O Alto Comissariado para os Refugiados nas Nações Unidas (o ACNUR) é uma agência especializada da ONU, que é uma organização governamental;
2.º- O segundo pressuposto (“original literário ou científico”), também não é aplicável, pois António Guterres não tem qualquer publicação na área dos Direitos Humanos.

E como reage Pedro Bacelar Vasconcelos, presidente da comissão que decidiu o prémio, à polémica? 
Mostra-se indignado por estarem a ser levantados problemas à atribuição do prémio.

Questionado sobre o facto de o ACNUR não ser uma ONG e de poder haver associações que concorreram lesadas, Pedro Bacelar Vasconcelos ainda se indignou mais: "Se há qualquer idiota que não concorda com a atribuição do prémio, que recorra. Isto não foi decidido por uma qualquer comissão, foi decidido por deputados da comissão de Assuntos Constitucionais".                                                                                                 In Observador

COMENTÁRIOS:
1. Quem contesta a decisão é idiota. Já os deputados que atribuem um prémio sem lerem o regulamento que eles próprios criaram fizeram um belo serviço…
Aqui fica a lista completa das “cabeças iluminadas”: Pedro Bacelar de Vasconcelos (PS), que preside, José Matos Correia (PSD), Filipe Neto Brandão (PS), Sandra Cunha (BE), Telmo Correia (CDS-PP), António Filipe (PCP) e José Luís Ferreira (PEV).
2. Só ficava bem a Guterres recusar o prémio. Doá-lo ao Conselho Português dos Refugiados nada altera. Ninguém pode doar aquilo a que não tem direito.
3. Pedro Bacelar limita o assunto a uma “questão de vírgulas”. 
Uma questão de vírgulas?! Questionei-me sobre o alcance de tal declaração. Como “vírgula” vem do latim virgula, igual à grafia atual, diminutivo de virga (“varinha”), a explicação só pode ser esta: quem não concordar com a decisão leva com a varinha. As ONG que concorreram e viram o prémio por um canudo já levaram com ela!
Abraço.
ProfAP

dezembro 20, 2016

ESPERANÇA para este Natal!


ESPERANÇA

É como se alguém me pisasse e eu me risse
- uma alegria toda cor e luz.

É como se alguém me batesse e eu cantasse
- um canto de amizade e paz.

É como se alguém me cuspisse e eu passasse indiferente
- um caminho claro como o dia.

É como se alguém me apunhalasse e eu o abraçasse
- um fogo de fraternidade humana.

Eu sei o teu nome, eu sei o teu nome
este vício secreto e interior
esta badalada do relógio da alma
este pulsar no coração do mundo
esta consciência duma ferida em chaga
este sentir a dor duma mulher pobre e faminta.

Eu sei o teu nome, eu sei o teu nome
Ó silencioso grito dos camponeses sem terra!
Ó vento da certeza que os carrascos temem!

Vasco Cabral (1926-2005)
Poeta guineense lutador pela independência e um dos líderes do PAIGC.

Abraço cheio de esperança num mundo melhor, em especial para os meus alunos e amigos guineenses!
ProfAntónio
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dezembro 18, 2016

As escolas privadas preparam os exames; as públicas, para a universidade?

17/12/2016

Eis, nu e cru, o efeito perverso dos rankings das escolas com que nos bombardeiam ano após ano: os alunos progridem mais no ensino privado, as escolas públicas são más, sobretudo no ensino secundário!

Para baralhar esta “verdade mentirosa”, que os media veiculam de forma acrítica, aqui vai:

Vale a pena destacar alguns extratos da notícia centrada num estudo da Universidade do Porto, publicado em 2013, uma espécie de "Toma lá ranking e vai-te catar!":

1. "Universidade do Porto analisou os resultados de 2226 alunos que concluíram pelo menos 75% das cadeiras ao fim de três anos e concluiu que os provenientes das privadas têm piores resultados".
2. "As escolas privadas preparam melhor os alunos para os exames, mas não para terem um bom desempenho na universidade."
3. "A Universidade do Porto (UP) analisou o percurso académico de 4280 estudantes admitidos no ano lectivo 2008/09 e concluiu que, entre os 2226 que concluíram pelo menos 75% das cadeiras dos três primeiros anos, os estudantes que provinham de escolas públicas apresentavam melhores resultados académicos do que os provenientes das privadas."
4. "As escolas privadas têm grande capacidade para preparar os alunos para entrar, mas o que se verificou é que, passados três anos, estes alunos mostraram estar mais mal preparados para a universidade do que os que vieram da escola pública"


E para arrasar:
5. "A secundária Garcia de Orta, uma escola pública do Porto, que naquele ano lectivo "colocou" 114 alunos em diferentes faculdades da UP, tinha, ao fim de três anos, 14 desses alunos (12%) entre os 10% melhores do ano. Já o Externato Ribadouro, também do Porto mas privado, colocou 154 alunos na UP (...), mas, no fim do terceiro ano, apenas cinco integravam o grupo dos melhores (3%). (...)
Do Colégio do Rosário, que tem surgido nos três primeiros lugares dos rankings, transitaram 56 alunos para a UP. Três anos depois, apenas três se incluíam entre os 10% com melhor desempenho académico. Do mesmo modo, o Colégio Luso-Francês, com 39 alunos admitidos, tinha apenas dois no top 10."
6. "Em termos globais, por cada 100 estudantes provenientes das escolas públicas que concluíram pelo menos 75% das cadeiras dos três anos, havia 10,69 no grupo dos melhores. No caso das escolas privadas, esse número era de 7,98."

E a cereja no topo do bolo:
7. ". Isto torna muito claro que a nota de entrada do aluno não permite perceber qual vai ser o seu desempenho, o que nos leva a questionar se o critério de selecção dos alunos não estará a deixar de fora alunos que podem vir a revelar-se excelentes".
8. "As universidades têm de começar a olhar para o exemplo das universidades estrangeiras e pensar em soluções".
Fonte: https://www.publico.pt/portugal/jornal/escolas-publicas-preparam-melhor-os-alunos-para-terem-sucesso-no-superior-25912886

Notas finais:
1.ªO motor de toda esta linha de montagem são os exames. Toda a atenção se concentra nos resultados, mas raramente se faz a análise da qualidade dos instrumentos que lhes dão corpo. Por vezes mal construídos, não raramente estúpidos na forma de questionar, privilegiam saberes estereotipados, por vezes atomizados, descontextualizados. Só assim se entende que, ao contrário do que acontece com as línguas estrangeiras, não seja permitida (como acontecia no meu tempo de estudante) a consulta do dicionário nos exames de Português. Por ser a língua materna, os alunos têm de conhecer todas as palavras? Qual o problema de, surgindo uma dúvida, poder consultar o dicionário? Não é esse um procedimento, um exercício de autonomia, que repetimos vezes sem conta nas nossas vidas?
2.ª- Introduzir o indicador “percursos diretos de sucesso”, que tanta satisfação parece ter dado ao primeiro-ministro, é apenas uma forma de doirar uma pílula fora de prazo e imprópria para consumo. É caso para dizer que continuamos a tomar a nuvem por Juno...

Abraço.
ProfAP

dezembro 12, 2016

Depois de HAVEREM relatos? Bruno de Carvalho dixit...


Certamente ainda perturbado pelo resultado e incidências do dérbi, o presidente do Sporting escreveu no Facebook ontem, após o jogo com o Benfica, e deu valente pontapé... na gramática! "Depois de sermos agredidos todo o jogo com autênticas armas de arremesso que deixei amostra à comunicação social (...) e de haverem relatos de arremessos (...)".

Mais uma vez, aqui fica a regra:
No sentido de existir, o verbo haver é, pois, sempre impessoal: não tem sujeito e, por isso, apenas se emprega na 3.ª pessoa do singular.” (Ciberdúvidas)

Quando a Bruno de Carvalho, o castigo só pode ser um: reguada nele!

Abraço e boa semana.
ProfAP

dezembro 11, 2016

Português deixa de ser língua materna em Cabo Verde...


Quando vi o título da notícia, a minha primeira reação foi de incredulidade. Depois, pondo de lado as emoções, passei à leitura e análise mais técnica da notícia.
Não tenho uma opinião formada sobre a decisão, pois não conheço bem o sistema educativo de Cabo Verde. Nem tinha a mínima ideia de que a taxa de insucesso na conclusão do 12.º ano ultrapassa os 50%.
Deixo apenas algumas observações.
1.ª- Chamou-me a atenção o facto de a ministra afirmar que a língua portuguesa não é na prática a língua materna. A definição estabelecida no Ciberdúvidas parece dar-lhe razão: “Língua materna é a que um ser humano aprende na infância até aos 5/6 anos.” Se o que as crianças cabo-verdianas aprendem é casa é o crioulo, essa é, tecnicamente, a sua língua materna...
2.ª- No entanto, o assunto não é novo. Veja-se esta notícia de 2010:
Português deve ser ensinado em Cabo Verde como língua estrangeira, defende Germano de Almeida
O escritor Germano Almeida defende que a língua portuguesa deve ser ensinada em Cabo Verde como língua estrangeira para que os cabo-verdianos passem a falar melhor o português.
Em entrevista à Agência Lusa, o escritor cabo-verdiano afirmou que no arquipélago há a ideia de que a população é bilingue, "o que não corresponde a verdade".
"O que vejo em Cabo Verde é uma defesa desmesurada do crioulo, quando o crioulo não está em risco e o crioulo limita-nos, fecha-nos sobre nós próprios", afirmou.
3.ª- A situação na Guiné-Bissau (com que contactei recentemente) é ainda mais problemática do que a de Cabo Verde. Por um lado, as crianças só têm contacto com a língua portuguesa quando iniciam a escolarização. Por outro, apenas 13% da população fala português (44% fala crioulos de base portuguesa e os restantes, inúmeras línguas africanas).
Diz-se até que, neste momento, o número de falantes de língua francesa já ultrapassou os que se exprimem em português, realidade que pude constatar nos mercados ao ar livre, sobretudo fora de Bissau.

Português passa a ser ensinado como língua não-materna a partir do próximo ano lectivo
(Agência Lusa / Expresso das Ilhas – 7/12/16)

O governo vai introduzir a partir do próximo ano lectivo o ensino do português como língua segunda com o objectivo de fortalecer a língua portuguesa no país, disse hoje a ministra da Educação, Maritza Rosabal.

O Governo vai contar neste processo com o apoio técnico de Portugal, ao abrigo de um acordo de cooperação assinado hoje, na cidade da Praia, pela ministra e pelo vice-presidente do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, Gonçalo Teles Gomes.
Em declarações aos jornalistas no final da cerimónia, Maritza Rosabal apontou a baixa eficiência do sistema de ensino cabo-verdiano e sublinhou a necessidade de atacar este problema.
"A língua portuguesa é abordada como língua primeira de Cabo Verde, quando não é. Temos uma eficácia do sistema muito baixa, em que apenas 44% das crianças que começam o primeiro ano finalizam o 12º em tempo. Temos muitas perdas", disse.
Maritza Rosabal adiantou que entre os alunos cabo-verdianos a capacidade de leitura e interpretação e a proficiência linguística são questões que se colocam "com muita acuidade".
"Toda esta duplicidade linguística afecta o processo. Reconhecemos que a nossa língua materna é o crioulo, mas como língua instrumental de trabalho e de comunicação temos que fortalecer a língua portuguesa", sustentou a ministra.
A responsável assinalou também "algumas dificuldades" de Cabo Verde na inserção no espaço lusófono.
"O Brasil exige provas de língua portuguesa aos nossos estudantes, o instituto Camões exige provas de língua portuguesa o que quer dizer que, apesar de estarmos no espaço lusófono, começamos a não ser reconhecidos como um espaço com proficiência linguística em português", disse.
Por isso, já no próximo ano lectivo, o ensino de português como língua segunda ou língua não materna começará a ser introduzido no ensino pré-escolar (4/5 anos) e no primeiro ano no ensino básico, estendendo-se depois progressivamente aos restantes anos do primeiro ciclo.
Neste momento está em curso, segundo a ministra, a elaboração dos materiais com o apoio do instituto Camões, que irá ainda dar assistência técnica na elaboração de metodologias, programas e desenvolvimento e alteração de currículos.
O protocolo envolve os ministérios da Educação de Cabo Verde e Portugal e o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua como entidade financiadora do projecto avaliado em 45 mil euros.
"O Camões será o financiador do protocolo, o ministério da Educação vai disponibilizar um dos seus quadros para vir para Cabo Verde trabalhar com o ministério da Educação cabo-verdiano na área do desenvolvimento curricular e capacitação técnica", explicou Gonçalo Teles Gomes.
Fonte:  http://www.expressodasilhas.sapo.cv/politica/item/51215-portugues-passa-a-ser-ensinado-como-lingua-nao-materna-a-partir-do-proximo-ano-lectivo

novembro 29, 2016

logótipo OU logotipo?


Num encontro hoje, na Fundação Gulbenkian, com o grupo de voluntários de que faço gostosamente parte ("Ser Mais Valia"), surgiu a dúvida: logótipo ou logotipo?

Como grande parte das palavras de origem grega (lógos, "palavra" + týpos, "tipo"), esta é proparoxítona (esdrúxula).

MAS…
           1. A generalidade dos dicionários regista as duas formas. A entrada “logotipo” remete para “logótipo”, o que indicia uma hierarquização, consagrando a forma acentuada como preferencial. Uma resposta de D’Silvas Filho, em 2006, no Ciberdúvidas, vai no mesmo sentido: "Do ponto de vista etimológico, penso que efectivamente deveríamos adoptar logótipo(…)."
            2. Na rubrica "Dúvidas Linguísticas" (no sítio www.flip.pt) adota-se a mesma perspetiva: "A forma esdrúxula ou proparoxítona (logótipo) é mais correcta (...)". 


CONCLUSÃO:
Ambas as grafias estão certas: logótipo e logotipo!

Obs.: Para o Ciberdúvidas, mesmo se aplica aos pares protótipo/prototipo, termóstato/termostato, estereótipo/estereotipo e fotótipo/fototipo.
Curiosamente, “logótipo” é mais recente do que “logotipo”.
Abraço.
AP
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