Seguidores

dezembro 18, 2016

As escolas privadas preparam os exames; as públicas, para a universidade?

17/12/2016

Eis, nu e cru, o efeito perverso dos rankings das escolas com que nos bombardeiam ano após ano: os alunos progridem mais no ensino privado, as escolas públicas são más, sobretudo no ensino secundário!

Para baralhar esta “verdade mentirosa”, que os media veiculam de forma acrítica, aqui vai:

Vale a pena destacar alguns extratos da notícia centrada num estudo da Universidade do Porto, publicado em 2013, uma espécie de "Toma lá ranking e vai-te catar!":

1. "Universidade do Porto analisou os resultados de 2226 alunos que concluíram pelo menos 75% das cadeiras ao fim de três anos e concluiu que os provenientes das privadas têm piores resultados".
2. "As escolas privadas preparam melhor os alunos para os exames, mas não para terem um bom desempenho na universidade."
3. "A Universidade do Porto (UP) analisou o percurso académico de 4280 estudantes admitidos no ano lectivo 2008/09 e concluiu que, entre os 2226 que concluíram pelo menos 75% das cadeiras dos três primeiros anos, os estudantes que provinham de escolas públicas apresentavam melhores resultados académicos do que os provenientes das privadas."
4. "As escolas privadas têm grande capacidade para preparar os alunos para entrar, mas o que se verificou é que, passados três anos, estes alunos mostraram estar mais mal preparados para a universidade do que os que vieram da escola pública"


E para arrasar:
5. "A secundária Garcia de Orta, uma escola pública do Porto, que naquele ano lectivo "colocou" 114 alunos em diferentes faculdades da UP, tinha, ao fim de três anos, 14 desses alunos (12%) entre os 10% melhores do ano. Já o Externato Ribadouro, também do Porto mas privado, colocou 154 alunos na UP (...), mas, no fim do terceiro ano, apenas cinco integravam o grupo dos melhores (3%). (...)
Do Colégio do Rosário, que tem surgido nos três primeiros lugares dos rankings, transitaram 56 alunos para a UP. Três anos depois, apenas três se incluíam entre os 10% com melhor desempenho académico. Do mesmo modo, o Colégio Luso-Francês, com 39 alunos admitidos, tinha apenas dois no top 10."
6. "Em termos globais, por cada 100 estudantes provenientes das escolas públicas que concluíram pelo menos 75% das cadeiras dos três anos, havia 10,69 no grupo dos melhores. No caso das escolas privadas, esse número era de 7,98."

E a cereja no topo do bolo:
7. ". Isto torna muito claro que a nota de entrada do aluno não permite perceber qual vai ser o seu desempenho, o que nos leva a questionar se o critério de selecção dos alunos não estará a deixar de fora alunos que podem vir a revelar-se excelentes".
8. "As universidades têm de começar a olhar para o exemplo das universidades estrangeiras e pensar em soluções".
Fonte: https://www.publico.pt/portugal/jornal/escolas-publicas-preparam-melhor-os-alunos-para-terem-sucesso-no-superior-25912886

Notas finais:
1.ªO motor de toda esta linha de montagem são os exames. Toda a atenção se concentra nos resultados, mas raramente se faz a análise da qualidade dos instrumentos que lhes dão corpo. Por vezes mal construídos, não raramente estúpidos na forma de questionar, privilegiam saberes estereotipados, por vezes atomizados, descontextualizados. Só assim se entende que, ao contrário do que acontece com as línguas estrangeiras, não seja permitida (como acontecia no meu tempo de estudante) a consulta do dicionário nos exames de Português. Por ser a língua materna, os alunos têm de conhecer todas as palavras? Qual o problema de, surgindo uma dúvida, poder consultar o dicionário? Não é esse um procedimento, um exercício de autonomia, que repetimos vezes sem conta nas nossas vidas?
2.ª- Introduzir o indicador “percursos diretos de sucesso”, que tanta satisfação parece ter dado ao primeiro-ministro, é apenas uma forma de doirar uma pílula fora de prazo e imprópria para consumo. É caso para dizer que continuamos a tomar a nuvem por Juno...

Abraço.
ProfAP

Sem comentários:

Enviar um comentário