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dezembro 11, 2016

Português deixa de ser língua materna em Cabo Verde...


Quando vi o título da notícia, a minha primeira reação foi de incredulidade. Depois, pondo de lado as emoções, passei à leitura e análise mais técnica da notícia.
Não tenho uma opinião formada sobre a decisão, pois não conheço bem o sistema educativo de Cabo Verde. Nem tinha a mínima ideia de que a taxa de insucesso na conclusão do 12.º ano ultrapassa os 50%.
Deixo apenas algumas observações.
1.ª- Chamou-me a atenção o facto de a ministra afirmar que a língua portuguesa não é na prática a língua materna. A definição estabelecida no Ciberdúvidas parece dar-lhe razão: “Língua materna é a que um ser humano aprende na infância até aos 5/6 anos.” Se o que as crianças cabo-verdianas aprendem é casa é o crioulo, essa é, tecnicamente, a sua língua materna...
2.ª- No entanto, o assunto não é novo. Veja-se esta notícia de 2010:
Português deve ser ensinado em Cabo Verde como língua estrangeira, defende Germano de Almeida
O escritor Germano Almeida defende que a língua portuguesa deve ser ensinada em Cabo Verde como língua estrangeira para que os cabo-verdianos passem a falar melhor o português.
Em entrevista à Agência Lusa, o escritor cabo-verdiano afirmou que no arquipélago há a ideia de que a população é bilingue, "o que não corresponde a verdade".
"O que vejo em Cabo Verde é uma defesa desmesurada do crioulo, quando o crioulo não está em risco e o crioulo limita-nos, fecha-nos sobre nós próprios", afirmou.
3.ª- A situação na Guiné-Bissau (com que contactei recentemente) é ainda mais problemática do que a de Cabo Verde. Por um lado, as crianças só têm contacto com a língua portuguesa quando iniciam a escolarização. Por outro, apenas 13% da população fala português (44% fala crioulos de base portuguesa e os restantes, inúmeras línguas africanas).
Diz-se até que, neste momento, o número de falantes de língua francesa já ultrapassou os que se exprimem em português, realidade que pude constatar nos mercados ao ar livre, sobretudo fora de Bissau.

Português passa a ser ensinado como língua não-materna a partir do próximo ano lectivo
(Agência Lusa / Expresso das Ilhas – 7/12/16)

O governo vai introduzir a partir do próximo ano lectivo o ensino do português como língua segunda com o objectivo de fortalecer a língua portuguesa no país, disse hoje a ministra da Educação, Maritza Rosabal.

O Governo vai contar neste processo com o apoio técnico de Portugal, ao abrigo de um acordo de cooperação assinado hoje, na cidade da Praia, pela ministra e pelo vice-presidente do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, Gonçalo Teles Gomes.
Em declarações aos jornalistas no final da cerimónia, Maritza Rosabal apontou a baixa eficiência do sistema de ensino cabo-verdiano e sublinhou a necessidade de atacar este problema.
"A língua portuguesa é abordada como língua primeira de Cabo Verde, quando não é. Temos uma eficácia do sistema muito baixa, em que apenas 44% das crianças que começam o primeiro ano finalizam o 12º em tempo. Temos muitas perdas", disse.
Maritza Rosabal adiantou que entre os alunos cabo-verdianos a capacidade de leitura e interpretação e a proficiência linguística são questões que se colocam "com muita acuidade".
"Toda esta duplicidade linguística afecta o processo. Reconhecemos que a nossa língua materna é o crioulo, mas como língua instrumental de trabalho e de comunicação temos que fortalecer a língua portuguesa", sustentou a ministra.
A responsável assinalou também "algumas dificuldades" de Cabo Verde na inserção no espaço lusófono.
"O Brasil exige provas de língua portuguesa aos nossos estudantes, o instituto Camões exige provas de língua portuguesa o que quer dizer que, apesar de estarmos no espaço lusófono, começamos a não ser reconhecidos como um espaço com proficiência linguística em português", disse.
Por isso, já no próximo ano lectivo, o ensino de português como língua segunda ou língua não materna começará a ser introduzido no ensino pré-escolar (4/5 anos) e no primeiro ano no ensino básico, estendendo-se depois progressivamente aos restantes anos do primeiro ciclo.
Neste momento está em curso, segundo a ministra, a elaboração dos materiais com o apoio do instituto Camões, que irá ainda dar assistência técnica na elaboração de metodologias, programas e desenvolvimento e alteração de currículos.
O protocolo envolve os ministérios da Educação de Cabo Verde e Portugal e o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua como entidade financiadora do projecto avaliado em 45 mil euros.
"O Camões será o financiador do protocolo, o ministério da Educação vai disponibilizar um dos seus quadros para vir para Cabo Verde trabalhar com o ministério da Educação cabo-verdiano na área do desenvolvimento curricular e capacitação técnica", explicou Gonçalo Teles Gomes.
Fonte:  http://www.expressodasilhas.sapo.cv/politica/item/51215-portugues-passa-a-ser-ensinado-como-lingua-nao-materna-a-partir-do-proximo-ano-lectivo

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