Esta é uma atividade lúdica e pedagógica de que ouvi
falar, já lá vão uns anitos, em Vichy, numa formação para professores de Francês.
Bastante praticada na Antiguidade (sobretudo na Grécia) como
treino para a leitura, passando pela Idade Média até ao século XVII, encontramos
ainda exemplos desta técnica na atualidade.
A ideia é “escrever” com as palavras dos outros, escolhendo
extratos de vários poetas (ou do mesmo poeta) e, sem alterar nada (nem a
pontuação), compor um novo texto com coesão e coerência.
Com
origem no latim no latim centone (manta de retalhos), o CENTÃO é uma “composição poética ou musical, de origem
greco-latina, formada por uma “manta de retalhos” (…) de sentenças, expressões
alheias, versos ou melodias de vários autores (pot-pourri), ou de um só autor. É condição fundamental que o centão
reconstitua os elementos dispersos de que parte até obter uma nova composição,
com um novo sentido. Pode-se aproximar este conceito da ideia de bricolage. Os poemas homéricos e
virgilianos deram origem a muitos centões, sobretudo a partir da era cristã. Na
Renascença italiana, Dante e Petrarca também inspiraram centões.”
(In http://edtl.fcsh.unl.pt/business-directory/6648/centao/)
Depois de alguma transpiração intelectual, aqui fica o meu CENTÃO de
Natal.
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Cada criança é o Céu que vem
Pra nos remir do pecado
É tempo de Natal. Exibe-se um pinheiro,
Com lâmpadas de cor,
E o cepo a arder nas cinzas do brasedo...
Natal, antes e agora
imutável.
Natal: os mesmos sinos
de repiques iguais.
Brinquedos e meninos,
Natal de outros natais.
Aí vem a estrela! Aí vem, sobre a montanha,
Rompendo a sombra etérea do crepúsculo!
Assim que o Anjo descer,
Hei de sentar-me na estrada
Ao pé da hora marcada
Para o menino nascer.
Vou aceitar este Natal, tal como está.
Embriagar-me de luz, de sons e de ilusões.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia...
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
Natal!...Natal!...
A boca o diz,
A mão o escreve,
O coração já não sente.
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
Autores escolhidos: Vinicius de Moraes, António Manuel Couto Viana, Afonso
Duarte, Mauro Mota, Alberto de Serpa, Teixeira de Pascoaes, Reinaldo Ferreira,
Cândido da Velha, David Mourão-Ferreira, António Gedeão, Jorge de Sena.
Abraço e que seja um bom Natal para toooodos vóoos!
ProfAntónio
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