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novembro 29, 2016

logótipo OU logotipo?


Num encontro hoje, na Fundação Gulbenkian, com o grupo de voluntários de que faço gostosamente parte ("Ser Mais Valia"), surgiu a dúvida: logótipo ou logotipo?

Como grande parte das palavras de origem grega (lógos, "palavra" + týpos, "tipo"), esta é proparoxítona (esdrúxula).

MAS…
           1. A generalidade dos dicionários regista as duas formas. A entrada “logotipo” remete para “logótipo”, o que indicia uma hierarquização, consagrando a forma acentuada como preferencial. Uma resposta de D’Silvas Filho, em 2006, no Ciberdúvidas, vai no mesmo sentido: "Do ponto de vista etimológico, penso que efectivamente deveríamos adoptar logótipo(…)."
            2. Na rubrica "Dúvidas Linguísticas" (no sítio www.flip.pt) adota-se a mesma perspetiva: "A forma esdrúxula ou proparoxítona (logótipo) é mais correcta (...)". 


CONCLUSÃO:
Ambas as grafias estão certas: logótipo e logotipo!

Obs.: Para o Ciberdúvidas, mesmo se aplica aos pares protótipo/prototipo, termóstato/termostato, estereótipo/estereotipo e fotótipo/fototipo.
Curiosamente, “logótipo” é mais recente do que “logotipo”.
Abraço.
AP
Imagem encontrada AQUI.

novembro 27, 2016

O que é a BRAQUISSEMIA?


Este é um termo da área da linguística, estranhamenente não registado na Infopédia. Já o dicionário Priberam diz-nos que é um processo “de formação de uma palavra por encurtamento de outra.
Este processo de formação de palavras afasta-se tanto da derivação como da composição e dá-nos formas que fazem parte dos registos popular e familiar, mas também do português padrão. O encurtamento da palavra pode resultar de três processos diferentes:
a) AFÉRESE (queda do fonema inicial): “nha mãe” por “minha mãe”;
b) SÍNCOPE (eliminação de um ou mais fonemas no interior da palavra): “você” e ”vossemecê” (“Vossa Mercê”);
c) APÓCOPE (supressão de fonemas no fim do vocábulo): “cinema” (“cinematógrafo”, “foto” (“fotografia”), “metro” (“metropolitano”), “otorrino” (“otorrinolaringologista”), etc.
Abraço e bom final de domingo!
ProfAP
Imagem encontrada AQUI.

novembro 24, 2016

Ano letivo 2016-2017 ou 2016/2017?

A página acima transcrita é uma boa amostra do que costumamos encontrar: o uso indiscriminado do hífen (-) a par da barra (/), como se fosse indiferente usar um ou outro dos recursos.
De acordo com o Código Interinstitucional de Redação (da União Europeia), 2016/2017 e 2016-2017 não significam a mesma coisa.

RESPOSTA:
Devemos escrever ano letivo 2016/2017!
Justificação:
Em períodos que abarcam uma parte do primeiro ano e outra parte do segundo, como os anos escolares e as campanhas agrícolas, usa-se /.
Mas:
Quando se trata de dois anos completos ou de um período de três ou mais anos seguidos usa-se o hífen:
.O projeto durou durante 2016-2017 (de 1 de janeiro de 2016 a 31 de dezembro de 2017)
.A guerra de 1914-1918.
.A crise de 1383-85.

Abraço

ProfAP

novembro 19, 2016

assembleia-geral OU assembleia geral?


Ao rever um texto da associação de voluntários de que faço parte, encontrei a grafia “assembleia geral”. O primeiro impulso foi juntar um hífen. Por um lado, porque há uma unidade de sentido entre as duas palavras, o que faz delas um composto com autonomia como secretário-geral, diretor-geral ou direção-geral; por outro, porque a Infopédia (o dicionário que costumo consultar) regista “assembleia-geral”.
Como cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, resolvi aprofundar o assunto, consultando outros dicionários e o Ciberdúvidas…
As conclusões não podiam ser (para mim) mais surpreendentes:
1. Excluindo a Infopédia, todos os dicionários (incluindo o da Academia das Ciências de Lisboa) registam a grafia sem hífen (“assembleia geral), o mesmo acontecendo com a Academia Brasileira de Letras e o Portal da Língua Portuguesa.
2. A justificação para a não hifenização parece estar no facto ser essa a grafia apresentada no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, o que quer dizer que era a grafia recomendada pelo Acordo Ortográfico de 1945 (não alterada pelo AO90).
Perante o exposto, não me resta alternativa: lá terei de fazer o luto pela perda daquele hífen que me acompanhou a vida toda…

CONCLUSÃO:
PORTUGAL e BRASIL
Devemos escrever assembleia geral!

Nota: O mesmo se aplica a todas as designações que incluam a palavra assembleia: assembleia constituinte , assembleia representativa, assembleia de voto , etc.
Mas, para complicar: secretário-geral, diretor-geral, direção-geral

Abraço de bom fim de semana!

ProfAP
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novembro 08, 2016

"Aquela Cativa", especialmente para Mário Centeno!

A abrir, a interpretação de Sérgio Godinho.

Na promoção do OE para 2017, o Ministro das Finanças recorreu a Camões com um extrato da composição “Endechas a Bárbara escrava”. Quis certamente trazer poesia ao debate, o que é de louvar. Mas se, nas palavras de Natália Correia, “a poesia é para comer”, já esquartejá-la, não me parece bem. Não é bonito e é desperdício. Logo, fica o conselho a Mário Centeno: Coma (poesia), mas em silêncio…
São inúmeros os exemplos de quem não entende que a poesia (e a literatura em geral) é para ser comida inteira, como uma peça de fruta com a casca ou umas petinguinhas fritas em azeite (com a espinha e as cabecinhas estaladiças).
E se se optar pela autópsia (a confirmação inequívoca do assassínio!), que se chame cada peça pelo nome que tem e não, como no extrato abaixo transcrito, se ponha o rótulo do “presente do indicativo” a “cativo”, que é um adjetivo com origem no particípio passado…

O poema inicia-se com o pronome demonstrativo “Aquela”, como se se pretendesse marcar a distância existente entre este “eu” e a mulher. De seguida, e através de um trocadilho entre o nome “cativa” e a forma verbal do verbo cativar no Presente do Indicativo, “cativo”(…)”


Para terminar, Zeca Afonso.

Endechas A Bárbara Escrava

Aquela cativa que me tem cativo,
Porque nela vivo já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa em suaves molhos,
Que para meus olhos fosse mais formosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha.
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa.
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo
E pois nela vivo,

É força que viva.