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janeiro 12, 2013

.Qual a abreviatura de Dona? (atualizado)

O D. Pedro veio dAQUI.

A. Esta foi a dúvida que me chegou há dois ou três dias. A resposta é simples e consensual: D. é a abreviatura de Dona. Ou seja, é igual à abreviatura de Dom, que conhecemos da História: D. Pedro, D. Duarte, etc.
Mas há uma diferença profunda no uso destas duas designações. Veja-se o que dizem Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, página 295:
c) o título Dom (escrito abreviadamente D.), para os membros da família real ou imperial, para os nobres, para os monges beneditinos e para os dignitários da Igreja a partir dos bispos:
D. Pedro                                                 D. Clemente
D. Duarte                                               D. Hélder

Observe-se que, se Dom tem emprego restrito no idioma, tanto em Portugal como no Brasil, o feminino Dona (também abreviado D.) se aplica, em princípio, a senhoras de qualquer classe social.

B. Depois de ter publicado a mensagem, fui questionado sobre opiniões diferentes sobre a abreviatura e sobre o uso da maiúscula/minúscula em Dom, Dona e respetiva abreviatura.
1. Refere o leitor Mário Azevedo que há no Ciberdúvidas respostas divergentes: "D' Silvas Filho (...) considera D.ª"; Eunice Marta, em 2012, indica D., mas, em 2011, referindo o VOLP da Academia Brasileira de Letras, diz: "outras formas femininas figuram nesta obra, como por exemplo: D., d. e D.ª  como abreviaturas de dona". Acrescento que  a ABL também admite Da.
Considerando a opinião de Celso Cunha e Lindley Cintra (referida em A.), corroborada pelo Dicionário de Siglas e Abreviaturas, da Porto Editora, e pela Academia Brasileira de Letras, mantenho a resposta dada ontem: D. é a abreviatura de Dona.
2. Quanto ao uso de maiúscula e minúscula, a dispersão é evidente:
a) Com vimos, Celso Cunha e Lindley Cintra usam apenas maiúsculas;
b) Ciberdúvidas: D' Silvas Filho (2002) usa a maiúscula: Ida Rebelo (2006) usa dona no início de uma resposta e Dona no final ("a Dona Lúcia); Carlos Marinheiro (2009): dona e abreviatura d. ou D.; D.ª. Eunice Marta (2011): dona;
c) O Dicionário de Siglas e Abreviaturas, da Porto Editora: usa maiúsculas: "D. [abreviatura de Dom, Dona]";
d)Academia Brasileira de Letras usa maiúsculas e minúsculas: dom (d. e D.) e dona (d., D., Da. e D.ª). 
E agora? Dirá, com espanto, o leitor amigo...
Vamos às "bíblias" oficiais:
1. No Acordo Ortográfico de 1945 (aplicado apenas em Portugal): Encontramos na Base 46 "Dom ou D.", não havendo referências a Dona...
2. Quanto ao Formulário Ortográfico de 1943 (aplicado no Brasil), está tudo claro no artigo 14º da Base 49: "
D. (Dom ou Dona)".
3. Já o Novo Acordo Ortográfico (Portugal e Brasil) serve-nos uma salada "sem pés nem cabeça:
a) Base XIX, ponto 1 - “A letra minúscula é usada: (…) f) Nos axiónimos e hagiónimos (opcionalmente, neste caso, também com maiúscula): senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o Cardeal Bembo; santa Filomena (ou Santa Filomena)."
 


Para uns, o "opcionalmente" restringe-se aos hagiónimos, pelo que deveríamos escrever dom e dona; para outros, cruzando esta alínea com a tradição e com o ponto 2 i) da mesma Base XIX (“A letra maiúscula inicial é usada: (…) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente…”), a opcionalidade aplica-se tanto aos hagiónimos como aos axiónomos, pelo que podemos usar maiúscula ou minúscula: Dom/dom e Dona/dona.
b) Base XIX, ponto 1 - “A letra minúscula é usada: (…) h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas com maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H­2O, Sr., V. Ex.ª."
 


Se usamos maiúscula em abreviaturas  nacionalmente reguladas com maiúscula, conclui-se que não há rutura com a tradição regulada em 1943 e 1945: a abreviatura deve ser grafada com maiúscula: D.
CONCLUSÕES:

Portugal (norma luso-afro-asiática) 
1. Se segue o AO de 1945:  Dom e D.
                                          Quanto a Dona ou dona, nada se diz…
2. Se segue o Novo Acordo: dom, dona e D. (interpretação restrita)
                                          Dom ou dom, Dona ou dona e D. (interpretação lata)

Brasil (norma brasileira) 
1. Se segue o FO de 1943:  Dom, Dona e D.
2. Se segue o Novo Acordo: dom, dona e D. (interpretação restrita)
                                          Dom ou dom, Dona ou dona e D. (interpretação lata)

Conselho final: Siga o conselho da equipa Celso Cunha/Lindley Cintra: Dom, Dona e D.

Abraço!
AP 

10 comentários:

  1. Mas, já agora, como sói indicar outrossim a forma brasileira, e se não estou em erro, ajunte-se que essa é «d.»: parece-me que tenho lido 'd. Maria Pia', assim como 'd. Maria Beldroegas'. E «d. Afonfoso Henriques', 'd. Afonso de Albuquerque', 'd. João de Castro', e por aí fora.
    Não sei, mas, assim tão diminuto e minúsculo, a mim nem me parece «dom» nenhum... Quase preferível um vossemecê.
    - Montexto

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    1. Obrigado, Montexto.
      Alargando o leque das consultas, já concluí que, quando escrevi na mensagem "a resposta é simples e consensual", fui ingénuo... Logo, vou ter de refazer (mais uma vez!) o texto.
      O problema é que, mesmo tendo calos, insisto em meter-me em apertos...
      Bom fim de semana.
      AP

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  2. Boa noite, António,

    Já tive esta dúvida há uns tempos e no Ciberdúvidas encontrei esta reposta dada por D´ Silvas Filho em 2002, que considera D.ª a abreviatura correcta:
    http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=10668

    Aqui há dois meses, no entanto, Eunice Marta respondeu de maneira diferente, indo ao encontro do António:
    http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=31504

    Mas esta colaboradora nem sempre teve a mesma opinião, pois em 2011 defendia que as duas abreviaturas eram legítimas; aqui:
    http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=29587

    Que confusão! Em que ficamos? Eu tendo a concordar com este última posição.

    Cumprimentos,
    Mário

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    1. Boa noite, Mário.
      Depois de ter publicado a mensagem, apercebi-me de que há discrepâncias como as que refere. Vou consultar o Acordo de 1945 e no Formulário de 1943 para ver o que dizem sobre o assunto, já que o Novo Acordo é uma grande salada em relação aos axiónomos.
      Até amanhã.
      AP

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  3. E de onde lhes veio o «d.»?
    Eu já li alguns livros brasileiros em que aparece assim: d. Maria, etc.
    Pode ser que não sigam a regra... Nada insólito.
    - Montexto

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  4. Concordo com "Anónimo12 de janeiro de 2013 às 21:43" sobre o d. ser muito diminuto para um Dom ou uma Dona.

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  5. Não existe no Brasil "dom" em minúsculas. Pouco me importa o acordo. Tive dois primos arcebispos: Dom João Baptista da Motta e Albuquerque e Dom João José da Motta e Albuquerque. Aqui não usamos mais os "Dons". Só bispos e alguns Bragança ainda insistem. Vossa história (e a castelhana também) está cheia deles. No Brasil, grafamos "dona", (e d.) por tradição de uma sociedade fortemente (perdão) hierarquizada. Aqui houve escravidão. No Brasil exitem as Donas e as donas. Não é de forma alguma uma questão de "brasileiros a corromper"a língua. A História também dita suas regras. Importa mais os estremenhos a falar e escrever como quiserem. Se não observam a tradição portuguesa com rigor medieval e seguem a debater com eles,merecem o elogio de todos os homens de boa vontade. Bem vindos ao mundo lusófono, estremenhos.Tenho dois sobrinhos e alguns ancestrais em Badajos e Cáceres. Albuquerque fica na Extremadura.

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    1. Caro "O tecnologista":
      No blogue, as conclusões apresentadas partem de fontes fidedignas (todas referidas no artigo). Se quiser contestá-las propondo em alternativa outras que considere mais fiáveis, esteja à vontade.
      Cptos.

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  6. Para mim vcs da gramática e da linguística foram fracos ao permitir essa reforma ortográfica. Vcs mesmo percebem que não tem lógica, que as chances de eu me encontrar com gente desses países euro-afro-asiáticos falantes de português é NULA com a condição econômica HISTÓRICA desse país!!! E as chances de comunicação por escrito em norma formal são menores ainda!!!! Acho que não é função de Governo, de Estado ou Organização Internacional regular a cultura de NENHUM POVO que a língua, o nosso brasileiro que tem até trema, que não é falado em nenhum lugar do MUNDO, DO UNIVERSO INTEIRO, não deveria ser modificado arbitrariamente por decreto! Muito menos, a língua do colonizador assassino que matou os genitores nativos e os de ascendência africana da NOSSA LÍNGUA BRASILEIRA!!!!!!!!!! AGORA ME DIGAM PQ O PARAGUAI ENSINA O GUARANI NAS ESCOLAS E VCS MAL NOS ENSINAM A DIFERENÇA DO BANTU E DO IORUBA? SE NÃO SABEMOS O QUE É TUPI-GUARANI, OU JÊ?????????? ACHO QUE JOSÉ DE ALENCAR E MACHADO DE ASSIS TERIAM VERGONHA DE VOCÊS!!!!! LIMA BARRETO PORIA FOGO NO POLICARPO QUARESMA!!!! ALGUÉM LEU JOÃO UBALDO RIBEIRO? SUASSUNA????GRACILIANO RAMOS?????? GUIMARÃES ROSA????????? SINCERAMENTE, TENHO VERGONHA DE VCS!!!!!!!

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    1. Caro Lolo:
      Não sei se hei de entender o seu comentário como um insulto ou como um desabafo. Não sou da gramática nem da linguística e muito menos "colonizador assassino". Tanta agressividade para quê? Pode expor os seus pontos de vista de forma calma e objetiva e terei todo o gosto em publicá-los.
      Cumprimentos.

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