A. Esta
foi a dúvida que me chegou há dois ou três dias. A resposta é simples e
consensual: D. é a abreviatura de Dona. Ou seja, é igual à abreviatura de Dom,
que conhecemos da História: D. Pedro, D. Duarte, etc.
Mas
há uma diferença profunda no uso destas duas designações. Veja-se o que dizem Celso
Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática
do Português Contemporâneo, página 295:
“c) o título Dom
(escrito abreviadamente D.), para os
membros da família real ou imperial, para os nobres, para os monges beneditinos
e para os dignitários da Igreja a partir dos bispos:
D.
Pedro
D. Clemente
D.
Duarte D. Hélder
Observe-se que, se Dom
tem emprego restrito no idioma, tanto em Portugal como no Brasil, o feminino Dona (também abreviado D.) se aplica, em princípio, a senhoras
de qualquer classe social.”
B. Depois de ter publicado a mensagem, fui questionado sobre opiniões diferentes sobre a abreviatura e sobre o uso da maiúscula/minúscula em Dom, Dona e respetiva abreviatura.
1. Refere o leitor Mário Azevedo que há no Ciberdúvidas respostas divergentes: "D' Silvas Filho (...) considera D.ª"; Eunice Marta, em 2012, indica D., mas, em 2011, referindo o VOLP da Academia Brasileira de Letras, diz: "outras formas femininas figuram nesta obra, como por exemplo: D., d. e D.ª como abreviaturas de dona". Acrescento que a ABL também admite Da.
Considerando a opinião de Celso Cunha e Lindley Cintra (referida em A.), corroborada pelo Dicionário de Siglas e Abreviaturas, da Porto Editora, e pela Academia Brasileira de Letras, mantenho a resposta dada ontem: D. é a abreviatura de Dona.
2. Quanto ao uso de maiúscula e minúscula, a dispersão é evidente:
a) Com vimos, Celso Cunha e Lindley Cintra usam apenas maiúsculas;
b) Ciberdúvidas: D' Silvas Filho (2002) usa a maiúscula: Ida Rebelo (2006) usa dona no início de uma resposta e Dona no final ("a Dona Lúcia); Carlos Marinheiro (2009): dona e abreviatura d. ou D.; D.ª. Eunice Marta (2011): dona;
c) O Dicionário de Siglas e Abreviaturas, da Porto Editora: usa maiúsculas: "D. [abreviatura de Dom, Dona]";
d) A Academia Brasileira de Letras usa maiúsculas e minúsculas: dom (d. e D.) e dona (d., D., Da. e D.ª).
d) A Academia Brasileira de Letras usa maiúsculas e minúsculas: dom (d. e D.) e dona (d., D., Da. e D.ª).
E agora? Dirá, com espanto, o leitor amigo...
Vamos às "bíblias" oficiais:
1. No Acordo Ortográfico de 1945 (aplicado apenas em Portugal): Encontramos na Base 46 "Dom ou D.", não havendo referências a Dona...
2. Quanto ao Formulário Ortográfico de 1943 (aplicado no Brasil), está tudo claro no artigo 14º da Base 49: "D. (Dom ou Dona)".
1. No Acordo Ortográfico de 1945 (aplicado apenas em Portugal): Encontramos na Base 46 "Dom ou D.", não havendo referências a Dona...
2. Quanto ao Formulário Ortográfico de 1943 (aplicado no Brasil), está tudo claro no artigo 14º da Base 49: "D. (Dom ou Dona)".
3. Já o Novo Acordo Ortográfico (Portugal e Brasil) serve-nos uma salada "sem pés nem cabeça:
a) Base
XIX, ponto 1 - “A letra minúscula é usada: (…) f) Nos axiónimos e
hagiónimos (opcionalmente, neste caso, também com maiúscula): senhor
doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o Cardeal Bembo; santa
Filomena (ou Santa Filomena)."
Para uns, o
"opcionalmente" restringe-se aos hagiónimos, pelo que deveríamos
escrever dom e dona; para outros, cruzando esta alínea com a tradição e com o
ponto 2 i) da mesma Base XIX (“A letra maiúscula inicial é usada: (…)
Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou
hierarquicamente…”), a opcionalidade aplica-se tanto aos hagiónimos como aos
axiónomos, pelo que podemos usar maiúscula ou minúscula: Dom/dom e Dona/dona.
Se usamos
maiúscula em abreviaturas nacionalmente
reguladas com maiúscula, conclui-se que não há rutura com a tradição regulada
em 1943 e 1945: a abreviatura deve ser grafada com maiúscula: D.
Portugal (norma luso-afro-asiática)
1. Se segue o AO de 1945: Dom e D.
Quanto a Dona ou dona, nada se diz…
2. Se segue o Novo Acordo: dom, dona e D. (interpretação restrita)
Dom ou dom, Dona ou dona e D. (interpretação lata)
Brasil (norma brasileira)
1. Se segue o FO de 1943: Dom, Dona e D.
2. Se segue o Novo Acordo: dom, dona e D. (interpretação restrita)
Dom ou dom, Dona ou dona e D. (interpretação lata)
Conselho final: Siga o conselho da equipa Celso Cunha/Lindley Cintra: Dom, Dona e D.
Abraço!
AP
Mas, já agora, como sói indicar outrossim a forma brasileira, e se não estou em erro, ajunte-se que essa é «d.»: parece-me que tenho lido 'd. Maria Pia', assim como 'd. Maria Beldroegas'. E «d. Afonfoso Henriques', 'd. Afonso de Albuquerque', 'd. João de Castro', e por aí fora.
ResponderEliminarNão sei, mas, assim tão diminuto e minúsculo, a mim nem me parece «dom» nenhum... Quase preferível um vossemecê.
- Montexto
Obrigado, Montexto.
EliminarAlargando o leque das consultas, já concluí que, quando escrevi na mensagem "a resposta é simples e consensual", fui ingénuo... Logo, vou ter de refazer (mais uma vez!) o texto.
O problema é que, mesmo tendo calos, insisto em meter-me em apertos...
Bom fim de semana.
AP
Boa noite, António,
ResponderEliminarJá tive esta dúvida há uns tempos e no Ciberdúvidas encontrei esta reposta dada por D´ Silvas Filho em 2002, que considera D.ª a abreviatura correcta:
http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=10668
Aqui há dois meses, no entanto, Eunice Marta respondeu de maneira diferente, indo ao encontro do António:
http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=31504
Mas esta colaboradora nem sempre teve a mesma opinião, pois em 2011 defendia que as duas abreviaturas eram legítimas; aqui:
http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=29587
Que confusão! Em que ficamos? Eu tendo a concordar com este última posição.
Cumprimentos,
Mário
Boa noite, Mário.
EliminarDepois de ter publicado a mensagem, apercebi-me de que há discrepâncias como as que refere. Vou consultar o Acordo de 1945 e no Formulário de 1943 para ver o que dizem sobre o assunto, já que o Novo Acordo é uma grande salada em relação aos axiónomos.
Até amanhã.
AP
E de onde lhes veio o «d.»?
ResponderEliminarEu já li alguns livros brasileiros em que aparece assim: d. Maria, etc.
Pode ser que não sigam a regra... Nada insólito.
- Montexto
Concordo com "Anónimo12 de janeiro de 2013 às 21:43" sobre o d. ser muito diminuto para um Dom ou uma Dona.
ResponderEliminarNão existe no Brasil "dom" em minúsculas. Pouco me importa o acordo. Tive dois primos arcebispos: Dom João Baptista da Motta e Albuquerque e Dom João José da Motta e Albuquerque. Aqui não usamos mais os "Dons". Só bispos e alguns Bragança ainda insistem. Vossa história (e a castelhana também) está cheia deles. No Brasil, grafamos "dona", (e d.) por tradição de uma sociedade fortemente (perdão) hierarquizada. Aqui houve escravidão. No Brasil exitem as Donas e as donas. Não é de forma alguma uma questão de "brasileiros a corromper"a língua. A História também dita suas regras. Importa mais os estremenhos a falar e escrever como quiserem. Se não observam a tradição portuguesa com rigor medieval e seguem a debater com eles,merecem o elogio de todos os homens de boa vontade. Bem vindos ao mundo lusófono, estremenhos.Tenho dois sobrinhos e alguns ancestrais em Badajos e Cáceres. Albuquerque fica na Extremadura.
ResponderEliminarCaro "O tecnologista":
EliminarNo blogue, as conclusões apresentadas partem de fontes fidedignas (todas referidas no artigo). Se quiser contestá-las propondo em alternativa outras que considere mais fiáveis, esteja à vontade.
Cptos.
Para mim vcs da gramática e da linguística foram fracos ao permitir essa reforma ortográfica. Vcs mesmo percebem que não tem lógica, que as chances de eu me encontrar com gente desses países euro-afro-asiáticos falantes de português é NULA com a condição econômica HISTÓRICA desse país!!! E as chances de comunicação por escrito em norma formal são menores ainda!!!! Acho que não é função de Governo, de Estado ou Organização Internacional regular a cultura de NENHUM POVO que a língua, o nosso brasileiro que tem até trema, que não é falado em nenhum lugar do MUNDO, DO UNIVERSO INTEIRO, não deveria ser modificado arbitrariamente por decreto! Muito menos, a língua do colonizador assassino que matou os genitores nativos e os de ascendência africana da NOSSA LÍNGUA BRASILEIRA!!!!!!!!!! AGORA ME DIGAM PQ O PARAGUAI ENSINA O GUARANI NAS ESCOLAS E VCS MAL NOS ENSINAM A DIFERENÇA DO BANTU E DO IORUBA? SE NÃO SABEMOS O QUE É TUPI-GUARANI, OU JÊ?????????? ACHO QUE JOSÉ DE ALENCAR E MACHADO DE ASSIS TERIAM VERGONHA DE VOCÊS!!!!! LIMA BARRETO PORIA FOGO NO POLICARPO QUARESMA!!!! ALGUÉM LEU JOÃO UBALDO RIBEIRO? SUASSUNA????GRACILIANO RAMOS?????? GUIMARÃES ROSA????????? SINCERAMENTE, TENHO VERGONHA DE VCS!!!!!!!
ResponderEliminarCaro Lolo:
EliminarNão sei se hei de entender o seu comentário como um insulto ou como um desabafo. Não sou da gramática nem da linguística e muito menos "colonizador assassino". Tanta agressividade para quê? Pode expor os seus pontos de vista de forma calma e objetiva e terei todo o gosto em publicá-los.
Cumprimentos.