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O tema do artigo de hoje inspira-se no
facto de o Presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva, ter usado hoje, no seu
discurso no Parque Termal do Peso, no norte do país, duas vezes o plural “cidadões”.
A. Regra geral
Há três maneiras de formar o plural
das palavras terminadas em –ão: ões (leões), ãos (irmãos) e ães (pães).
A
razão desta variação está na forma do étimo latino:
a) As terminadas em
-one formam o plural em ões (leão = leone);
b) As termindas
em -anu dão plurais em ãos (irmão = germanu);
c) As terminadas
em -ane originam plurais em ães (pão = pane).
B. Tendência
1. A maioria das
palavras terminadas em -ão forma
plurais em ões. Pode estar aqui a
causa do “cidadões” usado por Cavaco Silva.
Exemplos:
.balão
– balões
.tradição
– tradições
.redação
– redações
.limão
– limões
Nota: todos os aumentativos terminam em ões (solteirões, casarões, casacões).
2. A confirmar
esta tendência, todos os termos terminados em -ão que entraram no português a partir do séc. XIX só formam o
plural em ões.
C. Casos
especiais
Para complicar as coisas, há palavras
que podem ter dois plurais e outras aceitam mesmo as três formas, estando todas
corretas.
Exemplos:
.anciãos,
anciões, anciães;
.aldeãos,
aldeões, aldeães;
.sultães,
sultões, sultães;
.anães,
anões;
.corrimãos,
corrimões;
.verãos,
verões;
.vilãos,
vilões.
E cidadão?
1. Infelizmente para o Presidente, cidadão só admite um plural…
2.
a) Não podemos recorrer à terminação da
palavra em latim, pois ela resulta da junção cidade+ão. Segundo José Pedro
Machado (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa), o sentido moderno da
palavra deve ter vindo do francês citoyen.
b) O único plural considerado correto é cidadãos, mas, considerando as oscilações ãos/ões cada vez
mais comuns no discurso dos falantes, é provável que, no futuro, passem a ser
admitidos os dois plurais.
Nota: Esta
oscilação não é recente. O Houaiss refere, do século XIV, a forma “çiobdadããos”, mas também “cidadões”, do século seguinte…
Concluindo, o
Presidente da República deu um pontapé na gramática? Não deu, não senhores! Sendo
conservador, limitou-se a recuperar uma forma do século XV, dando ao discurso
um toquezinho rétro…
Abraço.
AP
Hum, demasiado simpático para o Presidente, não? Por esse raciocínio, muitos pontapés na gramática se perdoarão.
ResponderEliminarO parágrafo final é irónico, Mário.
ResponderEliminarClaro que o Presidente merecia umas valentes reguadas!
AP
Ok. Acho que fui levado em erro pela leitura dos comentários (ou comentos, como ele lhes chama) de Montexto, que vai sempre buscar coisas do arco da velha.
EliminarCoisa de assessoria de comunicação. Já vi erros do "arco da velha", daqueles que dão um zumbindo no ouvido da gente! Noutros, os olhos gritam! rsrsrsr
ResponderEliminarMas, noto também, um interesse crescente no escrever e falar de maneira correta. Porém, ainda parto do princípio que só escreve bem, quem lê bem. Interpretar um texto, entender as palavras e por ai vai.
Parabéns pela inciativa, Antônio. Muito bem detalhadas, as explicações.
Obrigado, Valéria!
EliminarConcordo que a leitura-compreensão é efetivamente um pré-requisito essencial para escrever bem.
Abraço.
AP
q coisa +legal
ResponderEliminarComo amante da gramática prefiro "cidadãos", no entanto, de nada adianta lutarmos pela grafia correta se os direitos da coisa significada não forem respeitados da forma como está acontecendo no Brasil. Por essa razão, confesso, eu preferiria que a nossa nação fosse composta de "cidadões" mas que tivessem os seus direitos respeitados.
EliminarNesse caso eu me aliaria ao Presidente Cavaco Silva e aos linguistas e quando alguém me criticasse eu prontamente responderia: "Entendeu, cara? Se entendeu, então não sacrifica!
Acho que a forma "cidadões" deveria ser considerada a mais correta, isso pelo seguinte motivo:
ResponderEliminarA evolução das palavras "leone", "germanu" e "pane" possuem a mesma terminação, "ão", logo, já que possuem a mesma terminação em português e não terminações diferentes, como em latim, deveriam em plural ter a mesma terminação, "ões". Eu acho até mais bonito.
Não vejo razão em basear os plurais da língua portuguesa de acordo com a forma latina das palavras.
Independentemente das razões que a razão aparentemente não conhece, aplica-se às regras da língua o princípio que aplicamos a qualquer lei: "dura lex, sed lex"!
EliminarCumprimentos.
otima explicação informativa...
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