Fonte: AQUI.
Eis a prova de que "o povo tem o poder criador", como dizem Celso Cunha e Lindley Cintra na sua Nova Gramática do Português Contemporâneo...
Muito
quente, linguistamente falando, o assunto de hoje. Opiniões que se opõem, outras a conciliar diferentes perspetivas, dificultando o uso da língua pelos utentes não especializados na
matéria.
A. Como aprendi e sempre ensinei: Vendem-se casas
Estamos
perante uma construção passiva com a partícula apassivante se, em que o sujeito é casas. Se o sujeito está no plural, o
predicado tem de estar de acordo… quer queira quer não!
Nesta opinião, tenho o apoio dos clássicos. Rodrigo de Sá Nogueira diz, no Dicionário de erros e problemas de linguagem, página 395: "-- Diga-se: "vendem-se selos" e não vende-se selos"; "compram-se móveis antigos" e não "compra-se móveis antigos"; "encadernam-se livros" e não "encaderna-se livros".
B. O que defendem alguns autores: Vende-se casas
1.
Transcrevo um pequeno extrato de uma resposta dada no Ciberdúvidas em 2003: “Há
autores que consideram que o se é pronome indefinido, funcionando assim como
sujeito; então estas frases seriam «vende-se casas» = «alguém vende casas»,
«colhe-se flores» = «alguém colhe flores», etc.
Discordo deles. O se pronome indefinido
emprega-se com verbos intransitivos, em frases como «trabalha-se bem nesta
casa», «vive-se mal nesta terra»: alguém trabalha, alguém vive – sujeito
indefinido, verbo no singular.”
2.
Encontrei no http://veja.abril.com.br um
artigo muito interessante a defender, “com unhas e dentes”, “que faz mais sentido
interpretar o “se” (...) como índice de indeterminação do sujeito.”,
referindo que o conhecido gramático Evanildo Bechara considera como “sintaxes
corretas” vendem-se
casas e vende-se casas. Aconselho a leitura
integral AQUI.
CONCLUSÕES:
Na minha opinião, deveríamos dizer: vendem-se casas
Mas...
Há quem defenda, como vimos, a construção vende-se casas…
Há quem defenda, como vimos, a construção vende-se casas…
Nota: Irei consultar novas fontes e, se se justificar,voltarei ao assunto.
Abraços.
AP
Adoro blogs sobre Língua Portuguesa! São tão úteis, principalmente depois do novo acordo ortográfico que deixou todo mundo meio perdido. Penso que daqui uns tempos o dicionário entrará em desuso por causa de blogs deste tipo e as facilidades da internet.
ResponderEliminarOlá, Érica!
EliminarObrigado pelas suas simpáticas palavras.
Abraço pra você desde Lisboa!
AP
Em português de lei, estreme e inteiro, correctamente só se dirá «vendem-se casas», caro António Pereira.
ResponderEliminarSó excepcionalmente, em casos em que o complicado ou arrevesado da construção da frase despistou o autor, se topam construções no singular, como o atestam os factos da língua, únicos decisivos.
Questão tratada por M. Barreto e Xavier Fernandes, Questões de Língua Pátria, vol. II, salvo e erro.
E em parte tocada tb no blogue Linguagista, comentários meus a «Sobre "Nortenho"», 14 de Agosto de 2011. Está logo na caixa dos mais comentados.
E boas festas.
- Montexto
Caro Montexto:
EliminarEm primeiro lugar, agradeço a visita e comentário.
Quanto ao seu reparo:
1. Na mensagem, começo por dizer, em A., que "aprendi e sempre ensinei: "Vendem-se casas". É assim que digo e vou continuar a dizer;
2. Numa perspetiva caleidoscópica das regras e usos da língua que tenho adotado no blogue, não podia ignorar que há quem defenda (como José Neves Henriques, consultor do Ciberdúvidas, e o gramático brasileiro Evanildo Bechara) que ambas as construções estão corretas;
3. Não possuo nem a segurança nem os conhecimentos que me permitam ter a postura normativa que tanto o Montexto como o Hélder assumem no Linguagista. Logo, limito-me a pesquisar informação, apresentado as conclusões possíveis em função da fidedignidade das fontes.
4. Quanto ao que é o "português de lei, estreme e inteiro", sabe, como eu, que não há consenso. E provavelmente nunca haverá...
Boas festas também para si!
António Pereira
Neste particular, os exemplos dos autores representativos e o voto dos estudiosos mais autorizados não deixam dúvidas.
ResponderEliminarVende-se casas, folheia-se livros, come-se maçãs, toca-se músicas, descobre-se terras, conquista-se reinos, promete-se prendas, etc: de arrepiar! monstruosidades do tempo e dos modernaços da glote. Gente especialmente daninha a até fatal às imunidades da língua, que parece que aprenderam em programas de computador.
- Montexto
Embora gostássemos todos que assim não fosse, há sempre lugar para as dúvidas...
EliminarE não vá o meu amigo aplicar-me o rótulo de "modernaço da glote", "I rest my case"...
Um bom fim de semana!
AP
Evidentemente que não aplico. Não lhe ia entrar em casa - no blogue - para o aperrear.
ResponderEliminarMas para a dúvida tb há-de haver limite. Já basta o que basta, não é preciso inventar mais «áreas críticas».
- Montexto
Garanto-lhe que as minhas não são inventadas. Surgem quando menos espero, são incomodativas muitas vezes, mas também me permitem, frequentemente, alargar conhecimentos. Outras, infelizmente, estão na minha gaveta dos "casos por resolver". Aqui fica uma que me surgiu ontem: "a primeira e segundas páginas" e "as primeira e segunda páginas" são construções igualmente corretas?
EliminarGostava de saber a sua opinião.
AP
Diz-se:
ResponderEliminar. as páginas primeira e segunda,
. a primeira e segunda páginas,
. a página primeira e a segunda,
. a primeira página e a segunda,
. a página primeira e segunda (menos frequentemente).
«A primeira e segundas páginas» suponho que seja lapso seu.
- Montexto
«escravos, que se vendem por manilhas de latão a 12 e 15 manilhas a peça» - «Esmeraldo de situ orbis», de Duarte Pacheco Pereira, p. 117, cit. por Epifânio, «Sintaxe», § 38.
ResponderEliminar*
«escravos, que se vende por manilhas» é de esfolar ouvidos afeitos ao respeito dos foros da língua.
- Montexto
O exemplo é bom e dá que pensar...
EliminarE havendo indeterminação do sujeito, não podemos ter uma frase como "Pode-se vender casas, mas só baixando o preço!", ou acha que tem mesmo de ser "Podem-se vender..."?
AP
Pode. Porque aí o sujeito é a oração infinitiva.
ResponderEliminarO assunto foi tratado por Mário Barreto no Através da Gramática e do Dicionário, a que talvez ainda tornemos, agora não o tenho à mão.
*
Mas para já remeto-o para os seguintes textos do Linguagista e respectivos comentários:
. «Se apassivante I», 31 Março 2012,
. «Se apassivante I» e «III», 1 Abril 2012.
É a boa doutrina.
Obrigado!
EliminarE, já agora, que me diz sobre isto: "A partir de frases como «Vende-se casas» e «Vendem-se casas», João Andrade Peres e Telmo Móia dizem na página 237 da 2.ª edição de Áreas Críticas da Língua Portuguesa: «Na nossa opinião, ambas as construções são aceitáveis, embora se possa preferir uma ou outra por razões estilísticas. A nossa posição resulta de dois factores: por um lado a aceitação generalizada por parte dos falantes que o uso do clítico impessoal com verbos transitivos parece ter; por outro lado, o facto de não julgarmos haver razões — estruturais ou semânticas — para aceitar a construção com o clítico impessoal nuns casos e rejeitá-la noutros.» Ciberdúvidas, 2008.
Eu conheço isso. Comprei o livro.
ResponderEliminarDigo-lhe que é tolice grossa. Para os da glote vale tudo, contanto que haja uns ignorantes a perpetrá-las.
Ainda os vai ver a defender «haver» no plutal como existir, monstruosidade já «com aceitação generalizada por parte dos falantes»: reitores, jornalistas, deputados, etc.
Finalmente, ao contrário do que se subentente do trecho, não há caso em que se deva aceitar a construção do «clítico» como sujeito.
Essa gente devia ler os textos da língua, e deixar-se de teses.
Daninhos, já lhe disse.
- Montexto
P. S. - Reparei agora: o próprio texto das Ciberdúvidas é vicioso: «a partir de frases» é como escrevem os Franceses.
ResponderEliminarO português que se conhece a si próprio, que sabe dos seus recursos próprios, não precisa disso para nada.
Nem sequer a significar termo «a quo» o português diz assim, mas antes «de... em diante»: do dia primeiro de Janeiro em diante, desde o dia primeiro em diante, etc. Nunca «a partir do dia«, etc.
Mas entranhou-se-lhes, como todo o contrabando franciú e agora mais bifecamone (que, por sinal, neste caso tb diz como nós: «from... on»).
*
Boas entradas, caro António, e boas leituras, daquelas que contam:
Sousa, Vieira, Melo, M. Bernardes, Costa (Arte de Furtar), Garrett (Viagens), Camilo, M. de Assis, Graciliano Ramos, J. de Araújo Correia. E mais alguns desta plana; superior não há. «Hors ça, pas de salut.»
- Montexto
. e ouviam-se as vozes agudas de um grupo que parecia ter bebido muito - p. 108.
ResponderEliminar. ouviam-se ainda, ao longe, dois ou três tiros no outro lado dos Grands Boulevards - p. 110
. de facto, no céu viam-se duas camadas distintas de nuvens - p. 125.
*
É assim que um português comummente fala, - e nem por ser uma versão do francês («Maigret e os Gangsters», Liv. do Brasil, col. Vampiro), decerto com «on» no original, o tradutor J. Lima da Costa se deixou escorregar para «ouvia-se as vozes... ouvia-se 2 ou 3 tiros... via-se duas camadas...»
- Montexto
Obrigado pelo contributo.
EliminarJá reformulei as conclusões da mensagem. Irei restruturá-la em breve, embora ainda saiba muito bem como vou descalçar, de forma airosa, tão retorcida bota...
Bom fim de semana.
AP
Mas vale a pena porque é questão do maior momento, inclusive entre as sintácticas. Por isso tenho batido tanto nesta tecla, já no Linguagista.
ResponderEliminar- Montexto