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setembro 07, 2012

.dinossauro ou dinossáurio?

Imagem encontrada AQUI.

A. Em 1999, diz-se no Ciberdúvidas em relação à palavra dinossáurio: “Os linguistas que colaboram nos dicionários em Portugal podem registar este termo, mas, cientificamente, têm o dever de indicar: a) que ele foi mal formado; b) que tem uso restrito em alguns meios académicos; c) que se deve preferir o emprego de dinossauro, porque, além de etimologicamente correcto, é um termo corrente em Portugal e no Brasil.
B. Independentemente da etimologia, tanto em Portugal como no Brasil, os dicionários registam ambos os termos, o mesmo acontecendo com os Vocabulários do Portal da Língua Portuguesa e da Academia Brasileira de Letras.
CONCLUSÃO:
Atendendo ao que fica dito no parágrafo, é legítimo empregar dinossauro e dinossáurio como sinónimos em todo o espaço da língua portuguesa.

C. Origem de cada uma das palavras:
1. Dinossauro vem do grego deinós, «terrível» + saũros, «lagarto».
2. Quanto a dinossáurio, para Carlos Marques da Silva (colaborador do Museu Nacional de História Natural), deriva de Dinosauria:
O termo Dinosauria foi cunhado por Sir Richard Owen (n.1804 - f.1892), insigne médico e paleontólogo britânico. Owen apresentou na “British Association for the Advancement of Science”, em 1841, uma comunicação sobre répteis fósseis da Grã-Bretanha. Foi no texto impresso dessa comunicação, publicado em 1842, que surgiu pela primeira vez o vocábulo Dinosauria. O termo é, portanto, um neologismo, concatenado, latinizado e formalizado por Owen em meados do séc. XIX. É do termo Dinosauria, e não de uma pseudopalavra grega ancestral, que deriva o vocábulo português dinossáurio.
Quando surge o termo em português? É difícil responder com exactidão a esta pergunta. Todavia, cabe a João Bonança (1891) a primeira referência conhecida a dinossáurios em Portugal.

Abraço.
AP

setembro 06, 2012

.preia-mar, preia mar ou preamar?

Foto tirada há dois dias ao pôr do sol na preia-mar (em Sesimbra)

A colocação ou não de hífen nos compostos (caso diferente das formações por prefixação) depende de haver ou não uma unidade de sentido, em que as duas palavras formam um todo (como em guarda-noturno, primeiro-ministro ou arco-íris). Em preia-mar (nome) há essa unidade semântica, pelo que é obrigatório o uso do hífen.

CONCLUSÕES:
Embora a origem seja a mesma (do latim plenamare):
1. Para Portugal, a resposta é preia-mar (plural preia-mares). Os dicionários também registam a variante praia-mar da linguagem popular.
2. A Academia Brasileira das Letras do Brasil regista preia-mar. Quanto aos dicionários, uns registam a palavra sem anotações, outros ou não a registam ou associam-na a Portugal. Todas as fontes registam uma forma que avançou para um patamar diferente, aglutinando, e parece ser a utilizada no Brasil: preamar.

Abraço.
AP

setembro 05, 2012

.Paralímpico, paraolímpico ou para-olímpico?

Imagem encontrada AQUI.

Este é um caso muito interessante que mostra que as línguas são organismos vivos, dinâmicos, mutáveis e... imprevisíveis!
A. Portugal
1. Em 2000, na resposta a um consulente, diz-se no Ciberdúvidas: “Nunca paralímpico, mas sim paraolímpico ou mesmo parolímpico. O segundo elemento não é susceptível de perder a vogal inicial (olímpico). Embora se veja para aí a primeira grafia, não deixa de ser (como costumo afirmar!) um mamarracho!
2. Em 2005, Margarita Correia do ILTEC também é taxativa: “Paraolímpico (e não “paralímpico”, nem “para-olímpico)”. Pode ler o texto AQUI.
3. Em 2008, também o Diário do Alentejo afinava pelo mesmo diapasão:paraolímpico, e não "paralímpico" (…).Suprimir a vogal o significaria atentar contra a integridade semântica da palavra, formada a partir de olimpíadas.
4. Em contracorrente relativamente à opinião generalizada, Pedro Mendes, numa resposta nas “Dúvidas Linguísticas” da Priberam, dizia em 2004: “As formas paraolímpico e paralímpico encontram-se ambas registadas em vários dicionários de língua portuguesa e nenhuma delas pode ser considerada incorrecta.
A forma preferencial deverá ser paraolímpico,(…).
5. No seu dicionário (de 2001), a Academia das Ciências de Lisboa regista apenas para-olímpico. Trata-se certamente de um lapso, pois esta forma de escrever não respeita as regras de uso do hífen. O prefixo para- (como in-, des- ou trans-) aglutinava sempre em 2001. Logo, não podia haver hífen.
6. Atualmente, o “mamarracho” referido em 1. não só já não o é como passou a figurar em todos os dicionários e também no Portal da Língua Portuguesa.

B. Angola
O termo paralímpico já é usado oficialmente pelo menos desde 2003.

C. Brasil
1. Dos cinco dicionários consultados, apenas o Dicionário Online de Português regista paralímpico. Também o Vocabulário da Academia Brasileira das Letras ignora esta forma.
2. No entanto, há menos de um mês, em agosto de 2012, saiu na revista Veja um artigo do escritor brasileiro Sérgio Rodrigues a dar conta da entrada irreversível do paralímpico no português do Brasil (AQUI).
3. Segundo o “site” LANCE!NET, a mudança para paralímpico foi sugerida pelo International Paralympic Committee, tendo o Comité Organizador dos Jogos Rio 2016 sido a primeira instituição brasileira a adotar a nova grafia. Pode ler dois artigos sobre o assunto AQUI e AQUI.

CONCLUSÕES:
1. Não há fundamento para escrever para-olímpico.
2. Embora vá continuar a escrever paraolímpico, pelo que fica dito, parece-me que ambas as formas (paraolímpico e paralímpico) estão legitimadas tanto na norma luso-africana como na brasileira!

Notas:
1. a) Paralímpico vem do inglês paralympic (amálgama de para(plegic)+(o)lympics);
    b) Paraolímpico resulta da junção do prefixo grego para- à palavra olímpico (do grego olympikós, «de Olímpia», pelo latim olympĭcu-);
2. Os franceses (paralympique), os espanhóis (paralimpico) e os alemães (paralympishe) também navegam nas águas paralímpicas.

Abraço
AP
 

setembro 04, 2012

.maduro ou maturo?


Na sequência da estadia de dois dias num hotel no Alentejo, recebi um formulário online para avaliar a qualidade dos serviços prestados. Nas opções de caracterização do cliente, surgia, entre outras, a opção “casal maturo”. E assim nasceu o dilema de hoje.
Em Portugal, a generalidade dos dicionários regista ambas as formas, embora a entrada maturo remeta sempre para maduro. O único dicionário que não regista maturo é o da Academia das Ciências de Lisboa (edição de 2001).
Em relação aos cinco dicionários do Brasil que consultei, todos registam as duas formas, mas classificam maturo como um termo “antigo”.
CONCLUSÃO:
Tanto em Portugal como no Brasil, a forma preferencial parece ser maduro, mas, de acordo com as fontes consultadas, a utilização de maturo é aceitável.

Notas:
1. Ambas as palavras provêm do latim matūru-.
2. O antónimo tanto de maturo como de maduro é imaturo.

Abraço.
AP

setembro 03, 2012

obrigado ou obrigada?

Fonte da imagem: AQUI.

Este é um assunto em que as respostas taxativas não sáo fáceis de dar, pois não há unanimidade em relação à catalogação gramatical das palavras obrigado(s) e obrigada(s). O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, diz que são interjeições, para o Houaiss são adjetivos (participiais) e a Porto Editora regista as duas classificações. Vamos à sistematização possível:
A. Para a generalidade dos autores, obrigado deve concordar em género e em número com o sujeito/emissor, ou seja, quem está no uso da palavra.
Veja-se este exemplo adaptado de um blogue (AQUI):
"As alunas, emocionadas, disseram:
-- Obrigadas, professora. Jamais nos esqueceremos de suas aulas.
-- Eu é que devo dizer obrigada pelo vosso empenho, queridas alunas."
B. O Ciberdúvidas refere a posição do seu consultor Peixoto da Fonseca que, não discordando do que ficou dito em A., “defende, contudo, que obrigado é também usado como interjeição e que a concordância pode ser neutralizada, quando uma mulher agradece. Deste modo, Obrigado! pode ter como emissor ou um indivíduo do sexo masculino ou outro, do sexo feminino, ou ainda um grupo, independentemente do sexo dos falantes. Ainda dentro desta perspectiva, observa-se que o uso não consagrou a situação inversa, a de um homem agradecer com "Obrigada!".

CONCLUSÃO
Portugal (norma luso-afro-asiática) e Brasil (norma brasileira)

  Emissor
Enunciado
1 homem
Obrigado
1 mulher
Obrigada
2 homens ou 1 homem e 1 mulher
Obrigados
2 mulheres
Obrigadas
Mas:
Se incluirmos estas fórmulas na classe das interjeições, é aceitável, seguindo a perspetiva de Peixoto da Fonseca, que uma mulher ou um emissor no plural digam “Obrigado!”. No entanto, o uso de “Obrigada!”, “Obrigadas!” ou “Obrigados!” terá estar em sintonia com o género/número do emissor.
Conselho final:
Considerando o conteúdo do excerto (também do Ciberdúvidas) que passo a transcrever, o mais seguro será usar obrigado(s) ou obrigada(s), em função do emissor: “Note-se, no entanto, que Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), indica que obrigado é uma interjeição flexiva, registando a forma muito obrigada. Parece, pois, poder-se concluir que a concordância deve ser observada.

Abraço.
AP



setembro 02, 2012

.desfrutar ou disfrutar?

Inequivocamente, DESFRUTAR!
A palavra é o resultado do casamento des+fruto+ar, significando colher/gozar os frutos de (ou viver à custa de ou escarnecer, pois que ele há gente pra tudo!).
Como consequência da pronúncia do E como se de um I se tratasse, nasceu o "barbarismo comum" (Ciberdúvidas)*1 DISFRUTAR. Não estando registado nos dicionários, ganha o estatuto de desfrute clandestino...
Este é um erro que os nossos amigos do Brasil*2 não cometem, pois pronunciam o E de forma bem marcada, como se lá estivesse um acento circunflexo: "dêsfrute".
Continuação de boa semana,  desfrutando das pequenas coisas que a vida-mãe vos for depositando no regaço!
ProfAP

*1 - Barbarismo = uso de formas que se afastam da norma estabelecida como correta. Os mais puristas consideram que os estrangeirismos são barbarismos.
*2 - Entretanto, recebi uma mensagem (ver nos comentários) do leitor Daniel Cardoso que mostra que, afinal, também há dúvidas no português do Brasil: "Na verdade, moro em São Paulo e a pronúncia por aqui é com "i".  

.super descascada, super-descascada ou superdescascada?

Esta é uma campanha publicitária a uma marca de cerveja a decorrer na Margem Sul (do rio Tejo), onde há várias praias. Para entender cabalmente a oportunidade desta iniciativa localizada, acrescento que a Praia do Meco é uma praia naturista… mesmo para as cervejas!

O equivalente no Brasil ao "descascada" (sem roupa) seria "pelada"
 
Vamos às regras que regem este prefixo. O Acordo Ortográfico manteve o que já estava em vigor, ou seja, com os prefixos hiper, inter e super só há hífen antes de h e r ( hiper-ridículo, inter-regional, super-homem).
Dica (já referida na mensagem de ontem) aplicável a todos os prefixos e com uma eficácia de mais de 95%: Pôr hífen apenas antes de h e quando a letra final do prefixo se vir ao espelho na letra inicial do segundo elemento.
APLICANDO A DICA:
Super descascada não é a grafia correta, pois “super” é, neste caso, um prefixo. Como o segundo elemento não começa por h e o r de “super” não se vê ao espelho (o segundo elemento começa por d), devemos escrever superdescascada!
 
 
NOTA COMPLEMENTAR
Repare na frase que está no anúncio (“A Vida é Super”). Aqui “super” ter a função de adjetivo (muito boa, ótima, excelente).
Embora nem o Portal da Língua Portuguesa (Portugal) nem a Academia Brasileira das Letras registem registem “super” como elemento autónomo, outras fontes (como o Ciberdúvidas e os dicionários da Porto Editora e da Academia das Ciências de Lisboa*) admitem tal possibilidade na classe dos advérbios (como intensificador) e mesmo dos adjetivos (como qualificativo). O dicionário da Priberam regista ainda a forma “súper” como nome (redução de supermercado).
 
 
* Para complicar a questão, este dicionário regista: “4. funç. adv. Fam. Usa-se antes de adjetivos e advérbios para indicar grau de intensidade elevada. MUITO. ≠ MUITO. Estou super interessado. Fica super longe.
Aparentemente, a grafia "super descascada" estaria validada. No entanto, no mesmo dicionário, diz-se, no ponto 3.: “Exprime a noção de de intensidade. Superfino, supersensível.
Considerando que, embora sendo uma fonte importante, a generalidade das obras de referência não segue este ponto de vista, opte pelo raciocínio mais simples e prático. Sempre que seja super “qualquer coisa”, aplique a dica apresentada mesmo antes da “NOTA COMPLEMENTAR”.
 
Que o domingo seja superagradável, supertranquilo e superconfortável para todos. Ou seja, que o domingo seja mesmo super!
AP

P.s. Depois de mais este imbróglio supercomplicado, acho que mereço uma tarde de praia ;)