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julho 12, 2019

Bijagós 4 - À pesca... da língua portuguesa e não só!

Quem havia de dizer...

Há dias, fui com a equipa de pesca do hotel que costuma acompanhar os turistas nas expedições. Objetivo: treinar o vocabulário e as estruturas, sobretudo os verbos, para dar instruções nos procedimentos a seguir. Acharam que eu deveria assumir o papel de professor-pescador para tornar as interações mais realistas. Aceitei, embora a minha única experiência de pesca esteja longe de ser gloriosa. Calculo que queiram saber porquê... Tá bem, não é preciso insistir mais, eu conto.
Há uns bons 20 anos, numa manhã enevoada (que me disseram excelente para uma boa pescaria) de outubro ou novembro, munido de uma cana de pesca, fio, anzol e uma chumbada (tudo comprado no chinês) e isco comprado numa loja de pesca, instalei-me numa das praias de Troia, junto à cidade de Setúbal. A "minha" Cecília sentou-se num banquinho e, embrulhada na toalha, mergulhou na leitura de um livro. Lancei a linha, esperei um bocado... e nada. Voltei a lançá-la, uma e outra vez, e sempre nada. Um pouco desiludido com a situação (até tinha prometido que íamos ter peixe ao jantar pescado por mim...), pousei a cana e fui andar um pouco junto ao mar. Então, apercebi-me de que, a poucos metros de distância, estava um senhor a pescar. Quando passei junto ao baldinho que tinha na areia, vi que tinha vários peixes. Concluí que o sítio que tinha escolhido era bom, logo, o problema estava na técnica. Voltei a pegar na cana e pus-me a observá-lo. E percebi que ele ganhava mais balanço do que eu no momento de lançar a linha. Juntei uma segunda chumbada e, ganhando todo o balanço que consegui, atirei a linha que, potenciada pela chumbada extra, partiu velozmente para o mar. Vá lá saber-se porquê, quando ficou todo esticado, o fio partiu-se e continuou em grande velocidade em direção à linha do horizonte com o anzol, o isco e as duas chumbadas. Nunca mais os vi.
Desgostoso, disse à Cecília: "Acabou-se a pesca!" Intrigada, respondeu: "Então, porquê?" Contrariado, expliquei-lhe o sucedido. Riu-se que nem uma perdida e, ainda hoje, quando recordamos a situação, se ri com gosto.
Voltando ao papel de professor-pescador, na primeira paragem, lançámos uma linha que estava enrolada numa tábua para capturar peixes não muito grandes. Todos apanharam peixes... exceto eu. O isco ficou intacto, embora eu tivesse seguido as instruções à risca. Parecia macumba...
Retirámos as linhas da água e partimos para a zona onde se apanham os peixes maiores. Embora eu não o quisesse, destinaram-me uma cana sofisticada. Passado pouco tempo, esticões e mais esticões, como se estivesse um touro enfurecido agarrado ao anzol. Seguindo as indicações do Agostinho, encostei a ponta da cana à virilha (onde ainda tenho uma nódoa negra) e, com incentivos de todos, dei à manivela como se não houvesse amanhã. Quando a bicha chegou à superfície, puxaram-na para dentro do barco e abreviaram-lhe rapidamente o sofrimento. É bastante resistente e disseram-me que, mesmo fora da água, morde que se farta.
Continuámos a pescar, mas não houve mais capturas.
À chegada, a Solange fez questão de que o momento ficasse registado para posteridade. Não me reconverti à atividade piscatória, mas foi uma boa terapia para o trauma de Troia.

Abraço (cheio de picadas das formigas de asa que, em época de acasalamento, andam com os nervos à flor da pele)!
AP

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