No
dia em que, contra tudo e contra todos (até contra as sondagens), o OXI venceu
o referendo na Grécia, proponho uma viagem ao interior da expressão VER-SE GREGO.
Transcrevo, coma devida vénia, uma resposta dada
no Ciberdúvidas em 2004:
Transcrevemos o que sobre a expressão «ver-se grego» (= ter muita
dificuldade em resolver qualquer problema ou situação) escreveu Vasco Botelho
de Amaral, em Mistérios e Maravilhas da Língua Portuguesa (Livraria Simões
Lopes, Porto, 1950):
«"Vi-me grego com aquela complicação".
«Porque será que se diz isto – ver-se grego?
«O grego foi sempre tomado na romanidade como coisa difícil.
«Na Idade Média era até frequentíssimo este dito, muito usado pelos
que faziam transcrições ou traduções: "Graecum est, non legitur" –
"É grego, não se entende". Inda hoje se diz – "isto para mim é
grego", ou seja, "não percebo nada disto".
«O ver-se grego não deve provir de se tornar grego no sentido de se
ver como natural ou habitante da Grécia. No entanto, o mistério em que sempre
se tem envolvido o que é grego, por menos acessível ao comum das gentes,
decerto influiu no facto de a palavra grego se haver aplicado aos ciganos, cuja
origem tanto mistério encobre, mas que se julgaram oriundos do antigo império
grego.
«Escrevi, por isso, no Glossário Crítico de Dificuldades que ver-se
grego deve relacionar-se com os ciganos: "Supostos estes oriundos do antigo
império grego, aos ciganos se chamou gregos. A sua vida cheia de dificuldades,
perigos, aventuras, perseguições, deu lugar a que se veja grego quem sofra
percalços ou se veja neles.
«Por um lado, a linguagem dos ciganos, o protótipo do
ininteligível, por outro lado, a confusão de ciganos com gregos da Ásia Menor e
a sua vida cheia de peripécias, de dificuldades do ciganear, tudo isto
misturado é o que dará a origem do ver-se grego.»
Abraço.
ProfAP
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