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julho 07, 2019

Bijagós 1 – Chegada a Bissau e aventura num táxi...

Em busca do fio perdido...

4-7-19: Com um atraso de uma hora, o voo da TAP partiu para Bissau ao fim da tarde. Depois de uma viagem tranquila e uma refeição quente, a substituir a habitual sandes fria e sem sabor, aterrámos em Bissau pela noite dentro. 
À saída do aeroporto, o volume das duas malas e um saco a rebentar pelas costuras deve ter chamado a atenção dos controladores, pois mandarem-me pôr a bagagem em cima de uma mesa para ser revistada. Chateado até ao tutano, abri o cadeado da primeira mala. Assim que abriram o fecho, caíram cadernos, lápis e esferográficas em todas as direções. Quando disse que era professor voluntário e que aquilo eram materiais que tinha trazido para os alunos, um dos verificadores olhou-me com ar de aprovação, sorriu e, depois de me ajudar a apanhar o que caíra da mala, disse-me que não precisava de mostrar mais nada e que podia seguir.
Depois de sair do aeroporto, seguiu-se a odisseia de descobrir onde estava quem me ia buscar, uma vez que tinha feito a reserva do transfer ao hotel onde iria pernoitar. Enviei na véspera da viagem um e-mail a perguntar como nos iríamos reconhecer. Resposta obtida: “Ok, Sr. António”. Depois de 10 minutos de busca infrutífera, como não tinha número guineense, telefonei para o hotel com um cartão que trazia de Portugal, quase esgotando o saldo. Disseram-me que andavam à minha procura e não me encontravam. Descrevi-me e disse que ia estar de braço no ar com um saco amarelo na mão. O efeito obtido foi ser abordado por múltiplos taxistas. Quando lhes perguntava se eram do hotel para onde eu ia todos diziam que sim.
Já quase desesperava, sempre com o braço no ar, com o saco amarelo bem visível, quando ouvi uma voz sumida: “Sr. António...”. Era a pessoa que procurava, mas as confusões mal tinham começado. Como já não havia lugar no mini-bus do hotel, indicou-me um táxi que me transportaria. Poucos são os táxis bem conservados em Bissau, mas o interior daquele em que acabara de entrar deixou-me a impressão de ter sido vítima de um bombardeamento. A porta, esburacada por dentro, quase não fechava e havia fios à solta por todo o lado, principalmente no lado esquerdo do volante.
O jovem condutor, cego de um olho e com uma tosse cavernosa que não indiciava nada de bom, sorriu, cumprimentou-me e disse várias coisas em crioulo que não entendi.
Pouco tempo depois de termos iniciado a viagem, parámos e o jovem apontou para o meu telemóvel, dizendo repetidamente “luce”, “luce”. Percebi que queria que eu ligasse a lanterna. Com dois alicates, esteve durante longos minutos a tentar tirar um fio de dentro de um tubo e a torcê-lo. Perante a dificuldade da tarefa, ia dizendo coisas em voz baixa.
Prosseguimos a viagem, mas, quando nos aproximávamos do início do mercado do Bandim, voltou a parar dizendo “Polícia, no bene”, o que me deixou intrigado e já um pouco preocupado. Voltou a usar os alicates da forma já descrita. Quando saiu do carro e foi espreitar a frente do carro, entendi que o sistema elétrico estava avariado e que temia ser multado.
Prosseguimos viagem sem luz nos faróis, orientados pelas luzes traseiras de outros veículos e por um ou outro poste de iluminação pública. Quando não havia nem uma coisa nem outra, era um “Seja o que Deus (ou Alá) quiser!”
Depois de uma viagem de perto de uma hora (em condições normais, seria menos de meia hora), chegámos ao destino. Desventuras terminadas? Nada disso! O jovem queria que lhe pagasse 10€ pela viagem. Embora lhe tenha explicado que era ao hotel que tinha de pagar e não a ele, insistia em receber e, do que me dizia em crioulo, entendi os argumentos de que tinha família para sustentar e que o hotel não lhe ia pagar. Enquanto falava, segurava-me os braços e olhava para mim com ar suplicante. Para desbloquear a situação, disse que pagava 5€. Contrariado, acabou por aceitar, visivelmente com ar de quem se sentia enganado por mim.
Entrei no hotel e descubram lá o que aconteceu? Isso mesmo, paguei o transfer pela segunda vez…
Abraço.

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