Agendado para 5 de julho ao fim da manhã, o trajeto
Bissau-Rubane (ilha sagrada dos Bijagós) foi adiada para o dia seguinte, devido
a uma forte tempestade que tornava a navegação perigosa no arquipélago.
No dia 6 às 9h00, entrei no barco e vestiram-se um colete salva-vidas e um casaco supostamente
antichuva.
Acondicionado estrategicamente (para não provocar desequilíbrios de peso) entre
bidões de gasolina, paletes de vinho tinto francês e água Castello, partimos do porto da
alfândega de Bissau.
Esperava uma viagem tranquila, sem
sobressaltos, mas… puro engano! Já em mar aberto, a forte ondulação erguia no
ar a parte dianteira do pequeno barco de fibra de vidro que se abatia com
estrondo sobre o mar, como se uma parede se tratasse, com efeitos devastadores
para as minhas cruzes. Quando o barco batia na água, o meu rabo saltava e
voltava a cair, com determinação, no assento improvisado. Parecia que, a
qualquer momento, o barco ia ceder e deixar-se engolir por aquela
imensa e revolta massa plúmbea.
Pensei para mim: “Epá, se tiver de ir desta
para melhor, que seja no regresso!”
Mais ou menos a meio da viagem, surgiu no
horizonte uma massa negra e compacta que parecia uma montanha. Disseram-me eram
nuvens de chuva que estavam à nossa espera.
Enquanto pensava naquela personificação tão
expressiva do Agostinho, começou a chover. Parecia uma coisa banal, mas, uns
minutos depois, veio uma chuva tão forte e cerrada que picava na pele. Só tive
tempo para guardar a máquina fotográfica e o telemóvel contra o peito, debaixo
do salva-vidas, enfiar a cabeça no capuz e tapar a cara. Resignado, fiquei ali,
quieto como um monge em oração. Esforços vãos, pois, animada de uma vontade
perversa, a água entrava por todo o lado. Fiquei todo ensopado, incluindo naquelas
partes que não preciso de nomear. Uma lástima!
O barco teve de parar quando a visibilidade ficou reduzida a quase nada.
O barco teve de parar quando a visibilidade ficou reduzida a quase nada.
Uns minutos depois, seguimos viagem.
Pouco depois, a massa negra desfez-se e abriu-se um arco como que a dar-nos passagem...
Depois de duas horas de provação, chegámos
(finalmente!) à joia do arquipélago.
Mal saí do barco e pus os pés na água
tépida, avistei a figura franzina da Solange a caminhar na praia na minha
direção. Com um grande sorriso, atirou-me: "Alors, Antôniô, ça a été
dur?" Respondi-lhe, fazendo das tripas coração: "Ah non, pas de
problème." Concluiu: "Vous êtes un homme courageux!" Pois sou!
:)
Abraço.
AP
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